Blog Nascentes do Rio Uruguai
Rio não nasce, rio não morre
Rio Pelotas em Bom Jardim da Serra, principal formador do Rio Uruguai no lado de Santa Catarina
Nascer e morrer é da vida, da existência de cada um, é a sina de quem por aqui passa. Como pode um rio nascer e morrer? Penso numa nascente, num olho d’água como tantos que por aqui encontrei, num banhado de turfeira que esconde a vertente e vejo que aí não é de fato o local onde o rio nasce. É apenas o local onde ele se apresenta para a geografia, pois vivo e fluído ele sempre foi, só estava escondido nas cavernas e lençóis freáticos do solo. Imagino toda a água do planeta sendo uma única água, um único corpo com mil formas espalhado por gretas, cânions, lagos, rios, oceanos e cavernas como se tivessem sempre de mãos dadas, unidos, apesar de divididos em pedaços pela geografia. Um corpo de mil formas que conhece o planeta inteiro e seus segredos mais escondidos, seja através de correntes marinhas que viajam pelos oceanos, seja pelas barrentas águas do Rio Uruguai que escondem histórias, mistérios e bichos. Todas interligadas, sempre se misturando, evaporando e voltando para o chão, atravessando os tecidos das plantas em uma floresta, hidratando animais sempre sedentos, carregando sedimentos dos planaltos para as planícies, imiscuindo-se nos apertados interstícios dos grãos de areia dos solos e sendo singrada por navios de todos os tipos e tamanhos.
Corredeira do Rio das Contas em São José dos Ausentes, a montante da ponte da Barroca
Assim vejo a água, este corpo amorfo que tanto encanta e assusta e por isso resolvi escrever, durante as últimas seis semanas, estas crônicas sobre o rio Uruguai, tão imponente e cheio de histórias do nosso Rio Grande do Sul. Fiz uma leitura rápida dos lugares de onde ele brota, de onde ele aparece, de onde ele ressurge das entranhas do planalto. Percorri lugares que nunca imaginei encontrar, com belezas cênicas espetaculares e ambientes tão preservados como se o presente ainda fosse o passado. Afundei nos banhados, bebi nas fontes mais puras que já encontrei, caminhei por leitos rochosos de águas rasas e cantantes cobertos de musgos como se fosse um carpete vivo, vi aves que se refestelavam nas corredeiras, nas ilhas pequenas, nos arbustos e campos das margens e acompanhei o curso de muitos arroios que rasgavam o campo e depois se escondiam em matas densas e escuras ou se jogavam em belíssimas cachoeiras.
Termina aqui esta série de crônicas sobre as nascentes deste grande rio, mas não termina minha vontade de continuar encontrando os locais mais escondidos, mais esquecidos, mais altos de onde a água se mostra à geografia. Continuarei me encantando e contando sobre o que vi nos rincões mais remotos do nordeste do Rio Grande do Sul, neste município encantador que é São José dos Ausentes e sua gente hospitaleira que tão bem sabe receber e contar de suas histórias.
Rio das Contas, principal formador do rio Uruguai no lado do Rio Grande do Sul
Agradeço pelos apoios que recebi para este trabalho, sem os quais não teria condições de levar a bom termo. Deixo aqui o registro da confiança que depositaram meus amigos através de suas empresas ou produtos, como o livro Canela Ontem e Hoje; o Restaurante Malbec; a Vinícola Jolimont; a Pampeana Produções Ambientais; a Estância Tio Tonho, através da família Vieira, que sempre me recebe de braços abertos e com aquele carinho que é a marca registrada desta autêntica e encantadora família serrana; da Pousada Fazenda Monte Negro, através da família Pereira, que me brinda com atenção e regalos, como as delícias da cozinha da dona Maria. Aos amigos leitores que acompanham minhas aventuras, agradeço pelo carinho e atenção com que me contam que leram e gostaram destes relatos, ficando sempre esperando pelo próximo. A vocês eu digo que haverá sim um novo trabalho já em março, mais longo e com outra perspectiva. O cenário envolverá a borda de um cânion e sua deslumbrante paisagem de entorno, com relatos pessoais de como é uma vida solitária neste lugar especial. Por isso o novo trabalho se chamará A BORDA. Aguardem.