Blog - Os Papapinhões

Contando papagaios

Contando papagaios
Bando de papagaios  (Foto - Projeto Charão) 

Uma das atividades que os pesquisadores realizam aqui na RPPN Papagaios de Altitude, em Urupema – SC, é a contagem de bandos de papagaios para tentar estabelecer o tamanho aproximado da população. O papagaio-charão, aquele que tem a ponta das asas e a testa vermelhas, é o alvo dos estudos nesta época de pinhões. Participei, juntamente com Jaime Martines e Nêmora Pauletti Prestes – diretores do Projeto Charão e mais o Chefe de Conservação do Parque da Aves da Foz do Iguaçu, Benjamin Phalan, de um evento de contagem no dia que cheguei por aqui – 23 de abril. O papagaio-charão tem um hábito único entre as outras espécies brasileiras: ele é migratório e atualmente só ocorre no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nesta época de outono, pela abundância do pinhão, os bandos vêm para cá, em especial para a região de Urupema, e permanecem até o final do inverno, o que coincide com o final da temporada de pinhões, quando migram para o Rio Grande do Sul par iniciarem o período de reprodução.

Contando papagaios3Jaime Martinez e Vitor Hugo Travi, pouco antes de iniciar a contagem dos papagaios (Foto- Projeto Charão) 

No final de tarde, dividimo-nos em dois grupos para contar os papagaios que saiam de seus locais de alimentação, ao sul da cidade, e se dirigiam para os dormitórios mais ao norte. Um a um, inúmeros bandos com trinta, cinquenta, cem e mais de duzentos indivíduos cruzaram sobre nossas cabeças em um período de não mais do que duas horas. Quando finalmente escureceu, cessou o movimento e voltamos para casa. A habilidade do Jaime e da Nêmora em contar estes papagaios, impressiona. Tantos anos nesta atividade – são trinta anos do Projeto Charão, os tornaram experts neste assunto e eu, neófito, fiquei na planilha anotando os números que me eram passados.

Contando papagaios5Bando de papagiaios-charão passando por sobre a RPPN Papagaios de Altitude

Espantado com o que via e ouvia, impossibilitado de fazer qualquer registro fotográfico de alguma qualidade devido a pouca luz e a grande altitude que os bandos passavam, fiquei só anotando, vendo e ouvindo o alarido. No retorno a base, já noite, a conversa no carro girava em torno do número de papagaios registrados, se seria maior ou menor que o dia anterior, estatística que só foi possível constatar quando foi feita a soma das planilhas, já em casa e a beira do fogão acompanhados de um sopão de legumes preparado pela Nêmora e de alguns vinhos que apareceram por lá trazidos por mim e pelo Jaime. O resultado deu o número impressionante de 10.529 papagaios que trocaram o local de alimentação pelo dormitório nesta região onde foi feita a contagem.

Contando papagaios2Casal de papagaio-charão. O macho (esquerda) tem manchas vermelhas mais fortes do que a fêmea  (Foto - Projeto Charão) 

Foi um dia muito intenso aqui na base Alto Montana dos Papagaios de Altitude onde aprendi e vi muito sobre estes encantadores, barulhentos e enigmáticos papagaios do sul do Brasil. Para os pesquisadores da casa, uma rotina que se repete sempre neste período de outono, sem deixar que isto os faça achar menos interessante o trabalho, porque sempre tem novidades. Ou a cada ano aumentam ou diminuem os bandos, ou mudam de lugar de alimentação ou de dormitório parecendo mesmo que estão desafiando estes abnegados biólogos que resolveram saber mais sobre eles, como ocorreu no passado quando os bandos misteriosamente sumiram do Rio Grande do Sul no outono, indo se instalar na região de Urupema, fato que rendeu muitos anos de estudos e descobertas aos pesquisadores. O papagaio-charão mostra que é dono do seu destino, vai aonde mais lhe convém, tanto em termos de oferta de alimento, como de segurança para a reprodução. Um saludo a este papagaio gaúcho-catarinense.

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