Mudando o tempo

O tempo não cansa, ele encanta. O tempo não é estático, por ser mutante. O tempo é rápido, mas também muito lento. O tempo de hoje, não é o de amanhã. E o tempo de amanhã? Como saber?

Num final de tarde na RPPN Papagaios de Altitude, em Urupema, SC presenciei uma espetacular mudança de tempo. Vinha de alguns dias claros, com sol e céu limpo que me estimularam a circular pela área da reserva e mesmo fora dela. Quando retornei à base e olhei para o sul, percebi a mudanças no tempo anunciada pelo céu carregado e escuro que se agigantava sobre o ainda limpo e azul dos lados norte e oeste. A paisagem assumiu outro tom, iluminada com aquele sol que aos poucos foi sendo bloqueado, mas ainda com uma luz sobre os pinheiros e o campo mais próximo. Criou-se assim um cenário duplo: o sul escuro e o norte e oeste ainda com sol insistindo em iluminar o cenário.

A força da mudança converteu uma sequência de dias secos em uma bruma úmida que logo se transformou em chuva fina que foi molhando e alegrando tudo. Folhas e galhos com alguma poeira acumulada dos dias secos começam a ser lavadas pelas gotas da bem-vinda chuva fina. Neste processo, a água arrasta de volta ao solo os minerais que vieram de algum outro lugar, arrancados que foram pelo vento em dias anteriores. Esta função da chuva é interessante, pois ela faz um trabalho associado com o vento. Este remove o solo em suas danças loucas sobre a terra e carrega o material até lugares distantes, depositando-os sobre casas, estradas, florestas e tudo o mais que estiver no caminho quando sua força amaina. A chuva colhe este material e o devolve ao solo, muitas vezes em locais muito distante do original. Chuva e vento, parceiros de uma atividade mais velha do que a vida na terra.  

De uma forma lenta, mas consistente, a chuva veio e alegrou a vida. As samambaias se desenrolaram, os musgos choraram gotas do precioso líquido, as turfeiras do Campo do Puma receberam uma dose extra de água. Não foi uma chuva forte, daquelas de encher açude, mas foi suficiente para umedecer o ambiente e tornar as coisas mais suportáveis. Muda o tempo, mas a vida segue no seu ritmo, sempre indiferente ao que acontece ao redor. E o tempo para amanhã? Esperemos.