Blog - Os Papapinhões

Encontro com o puma

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Um dos sonhos de qualquer biólogo de campo é o de poder avistar animais selvagens em seus ambientes naturais. É uma situação que exige algumas circunstâncias para que se realize e pode demorar muito para acontecer, principalmente se o local de avistamento for de baixa densidade de animais. Ir para a Lagoa do Peixe ou o Taim, enche os olhos do observador com as dezenas de espécies de aves de tamanhos, formas e hábitos variados, todas ali ao alcance de uma teleobjetiva de razoável alcance, um olhar treinado e a paciência necessária para andar e flagrar os melhores momentos.

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Quando se deseja observar mamíferos a coisa muda de figura, principalmente quando se quer encontrar aquelas espécies mais raras, como veado-campeiro, lobo-guará, tamanduá-mirim, irara, anta e os felinos. Estes últimos são os mais difíceis, na minha avaliação, principalmente por dois fatores: eles são quase sempre noturnos em hábitos e, por serem predadores de topo de cadeia alimentar, são reduzidos em número. Posso dizer que tive um dia de sorte aqui em Urupema há dias, quando percorria uma trilha de mata nos arredores da cidade. Na saída do mato cheguei numa área de campo com algumas vassouras quando notei o vulto de um animal grande, pardo, desconfiado e já me olhando. Parei o carro e vi, a poucos metros de mim, um majestoso e arisco puma, o meu primeiro avistamento deste felino em ambiente natural. Estando de carro me permitiu pegar a câmera e fazer alguns registros pelo para-brisas, o que deixou as fotos menos nítidas.

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A emoção do momento foi intensa. Ele olhava para o carro e eu para ele. Com o motor desligado, o puma ficou parado, meio confuso, e eu aproveitei para o registro. Ficamos ali uns cinco, talvez dez minutos um analisando o outro: ele talvez pensando o que seria aquele negócio diferente de qualquer coisa do mato ou do campo e que fazia barulho; eu fascinado pelo olhar do felino, sua cor, porte e importância como predador. Resolvi arriscar e chegar mais perto e quando liguei o carro e avancei um pouco, ele se movimentou e sumiu mata adentro. Desci e andei pelo local, mas não o vi mais. Como bom predador, ele sabe bem se ocultar. Agradeci a floresta e ao puma pelo avistamento e segui num frenesi emocional que durou muito tempo. Passado uma meia hora, observei o mesmo, ou talvez outro, em um local distante do primeiro avistamento e nesta ocasião ele estava andando tranquilamente pela borda de um açude. Peguei a câmera e segui bicho de longe até conseguir um registro rápido, ajudado pelo sol do final de tarde que destacou sua coloração parda dourada. Logo ele me percebeu e sumiu capoeira adentro. Foi um dia de campo para não esquecer.

Puma, leão-baio, onça-parda e sussuarana são nomes que identificam este mesmo felino nativo, o segundo em tamanho no Brasil, perdendo apenas para a onça-pintada. Odiado por criadores de gado, o puma é um símbolo de resistência às mudanças ambientais que praticamos em seus ambientes. Assim como os graxains, eles resistem, arriscam o pêlo por galinhas, ovelhas, potros e tudo o mais que estiver ao seu alcance. Foi um dia para marcar minha biografia. Dia de encontrar com o puma.

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