Blog Expedição Canela em Movimento
Cidade: : Ushuaia, Argentina
Finalmente chegamos ao nosso destino mais austral: a cidade de Ushuaia, no extremo sul do continente americano e considerado a cidade mais ao sul (austral) do planeta. Na estrada, pouco antes de chegarmos, fomos brindados por um arco-íris inusitado, pois estava abaixo de nós e não acima, como comumente vemos, e terminava na margem do lago Fagnano. Foi pouco antes do Passo Garibaldi, um local de parada obrigatória para contemplação e fotos. Como o lugar é alto, caía um pouco de neve no momento de nossa chegada, o que deu um toque especial a expedição.
Lentamente a paisagem foi mudando e as grandes planícies de ontem, vista em rio Grande, forma lentamente sendo substituídas por montanhas, e os campos por matas de notofagos, uma planta típica desta região andina.
O campo com os guanacos, animais que nos acompanharam durante toda a viagem a partir do Pampa, ao sul de Buenos Aires, e as primeiras matas vistas depois de mais de três mil quilômetros de campos e estepetes baixas. É a força da Cordilheira dos Andes mostrando que o ambiente é outro, com outras leis ambientais.
Montanhas em forma de pirâmides se erguem do campo, parecendo que foram ejetadas em busca de sol. De tão altas, recebem o bafejo das neves de verão, pintando os paredões escuros de um branco que, na mágica da física, vai se transformar em água cristalina, sem cor e abastecer os riachos abaixo.
A cidade de Ushuaia está instalada em uma baia do Canal de Beagle, batizado com o nome do navio que trouxe Darwin para a Terra do Fogo em 1º de dezembro de 1832. Falarei mais desta cidade em publicação futura. Devemos permanecer por aqui por uns três a cinco dias, visitando parques, montanhas, florestas, lagos, museus e a história da cidade. Aguardem.
Cidade: : Rio Grande, Argentina
Chegamos a Terra do Fogo e de tantas outras características. De imediato, impressiona a cor da paisagem, que muda para o verde e o amarelo ouro dos gramados de final de verão. Vales com arroios que eram raros na Patagônia mais ao norte, aparecem aqui com mais frequencia.
Chegamos na aduana chilena para fazer a documentação de fronteira e gastamos uma hora para passar em quatro guichês e uma série de carimbos e recomendações. Muita fila e gente de todas as partes. Pessoas que vinham de bicicleta, de moto, de carro, motorhome e ônibus. De tudo mesmo. Quando chegamos finalmente ao Estreito de Magalhães, que dá acesso a grande ilha da Terra do Fogo, outra surpresa. Filas intermináveis de carrros e de caminhões.
Ficamos aguardando com paciência, porque não tinha outra forma, mais de 4 horas para podermos embarcar a Meriva numa das duas balsas que faziam o transporte dos veículos. As águas verde do Estreito faziam um espetáculo a parte. Fiquei imaginando as caravelas de Magalhães chegando a este estreito, em 1520, e tentando encontrar uma saída para o oceano Pacífico. O vento deve ter ajudado ou atrapalhado muito o trabalho com as velas...
Finalmente conseguimos embarcar e seguir para o sul, numa travessia de pouco mais de meia hora através das geladas águas atlânticas do Estreito de Magalhães. Seguimos por uma estrada chilena muito bem construída, toda em concreto armado e muito bem sinalizada. Ache a Meriva da expedição no interior da balsa....
Milhares de ovelhas se espalham pelas imensas planícies gramadas da Terra do Fogo. Vimos muitas estâncias com estrutura gigantesca para a exploração ovina de lã. Depois do petróleo, que também é explorado por toda a região, acredito que a ovelha é a outra grande mola de desenvolvimento.
Chegando próximo a Rio Grande, encontramos planícies impressionantes que se fundiam com o horizonte. Campos nativos povoados por ovelhas, guanacos, emas e uma fauna típica da região com muitas aves de grande porte. Não conseguimos chegar ao Ushuaia devido as 5 horas que perdemos na fronteira e na balsa, mas estamos a menos de 300 quilometros do destino. Amanhã deveremos aportar por lá, perto do meio dia, pouco mais, puco menos.
Tudo certo com a Meriva. Foi um problema com o tipo de oleo colocado antes da saída e que já foi solucionado com uma troca. Estamos agora prontos para seguir, o que faremos amanhã cedo. O meu primo e companheiro de viagem Mario, resolveu o problema encontrando um mecânico aqui em Rio Gallegos em pleno feriado de carnaval. Sim, aqui também é feriado hoje e amanhã, e este foi o motivo da aduana estar repleta de carros hoje cedo. Muitos argentinos foram passear no Chile. Amanhã tudo volta ao normal, invertendo o fluxo. Lembrei muito da minha Canela em dias de grandes eventos.
Formações curiosas se espalham por todo o percurso da Ruta 3, a estrada que liga Buenos Aires ao Ushuaia, como este grande cerro com o topo em forma de mesa. O seu topo parece ser formado por algum tipo de depósito rochoso mais resistente a erosão do que a sua base. São as surpresas da Patagônia austral.
Cidade: : Comandante Luis Piedrabuena, Argentina
Partimos hoje cedo para atravessar a fronteira com o chile e, quando chegamos na aduana, havia uma quantidade tão grande de carros para atravessar e pegar a balsa no Estreito de Magalhães que a demora estimada estava em 5 horas, sem garantia de embarque. Como havíamos notado um barulho estranho no motor da Meriva, resolvemos voltar 55 km até Rio Gallegos e acionar o seguro, por garantia. Agora já estamos de volta ao hotel e ainda aguardando o mecânico vir avaliar o que acontece com o carro. Esperamos não ser nada que nos retarde mais a viagem. A foto acima é de Luis Piedrabuena, uma cidade as margens do Rio Santa Cruz, ao sul de Puerto San Julian.
Cidade: : Puerto San Julián, Argentina
Hoje cedo chegamos a San Julian, uma cidade portuária onde, em 1520, Fernão de Magalhães aportou com suas naus quando estava a caminho da primeira circunavegação do planeta registrada na história. Uma de suas naus foi reconstruída em tamanho natural e transformada num museu, na beira do mar. A visita é obrigatória.
Dentro do navio é possível se ter uma idéia de como era a vida dos marinheiros de Magalhães durante os três anos de sua viagem emblematica.
São frequentes nas baixadas e planícies aqui da Patagônia, lagos salgados que, ao secarem (foto), deixam um depósito de sal na superfície. É uma espéie de esforço do oceano de dizer a todos que, num passado distante, já banhou o lugar com suas águas frias e azuis.
Uma das cenas mais frequentes na Ruta 3 é a presença de rebanhos de guanacos. Num dos maiores, contamos mais de sessenta individuos, entre adultos e jovens de ambos os lados da estrada. Parece que o maior predador deste camelo da patagônia é a estrada, seus veículos e caminhões. São inúmeras as carcaças de guanacos atropelados, assim como emas, zorrilhos, lebres e outros não identificados.
O Rio Santa Cruz forma belas paisagens nos vales por onde passa, abastecendo de uma rica água proveniente da Cordilheira dos Andes, a fauna e a flora desta parte da Patagônia. Suas margens tranquilas convidam as pessoas a um acampamento e pescaria. No final do dia chegamos em Rio Gallegos. Amanhã atravessaremos o Estreito de Magalhães e rumaremos a Ushuaia.
Cidade: : Puerto Deseado, Argentina
O sul da Patagônia tem surpresas impressionantes. A paisagem, por vezes monótona por plana e igual, transforma-se numa majestosa composição de cores e formas, de águas e de fauna que tornam o local digno de uma parada para contemplação, como fez o naturalista Charles Darwin quando por aqui andou na sua viagem ao redor do mundo. Assim é Puerto Deseado (Desejado, em português). Sim, um lugar certamente desejado pelos nativos que aqui viviam e pelos espanhóis que criaram uma cidade com um porto importante.
Em Puerto Deseado há umas formações de rochas cavernosas e que remetem a um cenário espetacular de filme. Paredões exibem cavernas de tamanhos e formas incomuns fazendo a imaginação saltar e recriar as cenas do passado.
Gaivotas e pinguins, golfinhos e lobos marinhos povoam a foz e as ilhas do rio Deseado, numa demostração de que, tendo água em abundância, a vida floresce de uma forma espetacular.
Pela manhã saímos de Comodoro Rivadávia com seu mar cor de um azul profundo e desenhado por uma costa arenosa criando baías e enseadas que demosntram toda a força da paisagem do sul da Argentina.
A riqueza do sub-solo de Comodoro Rivadávia é visível na presença de centenas de pica-paus, estas máquinas extratoras de petróleo do solo patagônico. Elas estão por toda parte, tanto nos arredores como na zona urbana da cidade. Um elemento estranho numa paisagem acostumada ao vento e ao sol.
Cidade: : Gaiman, Argentina
Hoje, sexta feira 13 de fevereiro, está completando uma semana em que a Expedição Canela em Movimento saiu de Canela, RS, cedo da manhã com uma cerração soprada para nos mandar para o sul. Andamos 3.850 quilometros até agora e acabamos de chegar em Comodoro Rivadávia, Provincia de Chubut na Patagônia argentina.
Começamos o dia visitando a bela cidade de Gaiman, próximo a Trelew. É um local banhado pelo rio Chubut e que guarda fortes traços da colonização Galesa do século 18. Uma visita ao Centro de Informações e Ariadne nos abasteceu de material para conhecer o local.
Uma vista de Gaiman a partir de um cerro panorâmico próximo ao Centro de Informações. Cidade organizada, limpa e muito simpática com suas contruções históricas.
Uma visita ao impressionante Geoparque Bryan Gwyn mostra como a atividade vulcânica e invasões do nível do mar moldaram a Patagônia atual. Dezenas de metros de cinzas vulcânicas e fósseis de fauna terrestre e marinha por toda a área contam como foi o passado por aqui.
Fósseis em exposição ao ar livre nas pirâmides de vidro permitem uma visão pouco convencional do passado. Um passeio imperdível para quem gosta de saber onde anda e quem já andou por ali, deixando suas pegadas e esqueletos.
As praias de Comodoro Rivadávia mostram a amplitude das marés que ocorrem diariamente. As pessoas aproveitam o impressionante recuo do mar para coletar animais marinhos, como moluscos e crustáceos que se escondem nas tocas cheias de água. O trabalho tem que ser cronometrado porque o mar cobra seu espaço com precisão e decisão.