Blog Expedição Canela em Movimento
Cidade: : Esquel, Argentina
Há 40 anos atrás, estive aqui em Esquel durante uma das minhas viagens de reconhecimento das coisas da América do Sul. Pouco lembro da cidade do passado, mas hoje, quando aqui cheguei, fiquei impressionado com o desenvolvimento que houve durante este tempo decorrido. De um pequeno povoado do início da década de 70 do século passado, passou a uma cidade moderna, aconchegante, limpa, arejada, com vias e calçadas largas para abrigar os pouco mais de 40 mil habitantes atuais. Restaurantes, hoteis, artesanatos e muita informação turística continuam sendo a principal atividade da cidade andina, mas agora em outra escala.
O que não mudou neste tempo foi a paisagem do entorno da cidade, formada pelas montanhas imponentes da Cordilheira dos Andes, com ou sem cobertura de vegetação. É comum por aqui uma rua simplesmente terminar em alguma montanha, como esta da foto acima.
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Não reconheci sequer uma rua, uma casa e tampouco o hotel onde fiquei. Tudo mudado para melhor, parece-me. Clima agradável de 30ºC nestes dias de verão e o ar seco com 20% de umidade, permite suportar bem a alta temperatura. Lembro mais do Parque Nacional de Los Alerces que visitei naquela ocasião, ao qual retornarei amanhã num passeio de dia todo. Até o trem, uma maria fumaça legítima que me levou de volta a Buenos Aires, com escala em Barilhoche para troca de trem, foi desativado. Algumas relações conhecidas com Canela....
A zona rural da cidade mostra atividades com foco na pecuária, e os campos de verão exibem sua cor dourada de final de ciclo.
Cidade: : Perito Moreno, Argentina
Conhecemos hoje quase ao final do dia, já que viajamos mais de 600 quilômetros de Chaltén até Perito Moreno (a cidade, não o glacial), um lugar de reconhecimento internacional pelos cientistas que estudam o passado. Trata-se da famosa Cueva de las Manos, um sítio arqueológico que, devido a sua importância e grau de preservação, foi considerado Patrimônio Cultural da Umanidade pela Unesco.
Com um centro de visitantes encravado na encosta do Vale do rio Pinturas, fomos recebidos por pessoas capacitadas e, após pagamento de um ingresso de cerca de R$ 18,00, tivemos uma excelente visita guiada, juntamente com outros visitantes de diversos países. Muita história e muita emoção na leitura do significado daquelas pinturas.
O vale do Rio Pinturas foi escavado há cerca de 1,8 milhões de anos em decorrência do degelo de uma era glacial. A água do rio buscou uma falha geológica do terreno e escavou o vale com o grande volume de água da época, que foi drenada para o Oceano Atlântico. Nos pontos mais profundo o vale tem mais de 300 metros de paredões.
As pinturas rupestres estão em paredes de rochas vulcânicas protegidas por parapeitos naturais das pedras e por isso ainda estão bem conservadas. Uma excelente infraestrutura está instalada para o conforto e segurança, tanto do visitante quanto das preciosas e intrigantes pinturas.
Os negativos de mãos, quase todas esquerdas porque a direita era utilizada para fazer a pintura e por isso sabe-se que eram destros, era feito aspergindo ou com a boca ou com um canudo de osso de choique, uma espécie de ema de pequeno porte. É possível ver no centro e acima da imagem duas patas desta ave de três dedos, representada em negativo. Estas pinturas tem entre 10 mil e 1,5 mil anos, representando três períodos de atividade distintas dos nativos.
A última fase, mais atual, tem pinturas mais abstratas e sem que se possa saber o significado de algumas delas. O pigmento utilizado era de minerais de vários tipos e cores de rochas, bem moídos e fixados com algum líquido, que poderia ser sangue, gordura ou outro.
A representação de guanacos correndo indica ação de caça de emboscada, uma pintura do último estágio, o mais recente com cerca de 1,5 a 3 mil anos. Dos guanacos, os camelos da patagônia, estes povos primitivos retiravam grande parte de seu sustento, vestimenta e material ósseo para pontas de flexas, assopradores e tendões para fios de costura e amarra em geral.
Durante toda a viagem pegamos apenas dois dias a noite na estrada. A primeira foi chegando em Buenos Aires, com um caos de trânsito de um domingo a noite. O segundo foi hoje e, como uma compensação ao estresse de Buenos Aires, fomos brindados com este espetacular por de sol na cordilheira. Parece que o céu pegou fogo para prolongar sua luz sobre a Patagônia.
El Chalten é um pequena cidade que fica, literalmente, no final da estrada. Está acentada num vale do rio Fitz Roy, o mesmo nome que batiza a montanha mais alta ao fundo, com pouco mais de 3.400 metros, que vigia a cidade e seus pouco mais de 1.800 habitantes. Um lugar inimaginável, como se fosse uma daquelas cidades medievais da Europa cercadas não de muros, mas de montanhas imponentes da Cordilheira do Andes.
Como toda pequena cidade, a infraestrutura também é proporcional, mas bem adequada. A internet aqui é muito lenta ou saturada nos momentos de pico de uso. Uma verdadeira multidão de estrangeiros estão acampados, em motor homes, nos hoteis, pousadas e hostels e não cansam de se conectar e enviar as imagens impressionantes para os seus países. Por este motivo estou fazendo esta postagem do dia 24/2, no dia 25/2 as 5 da madrugada, quando a cidadezinha ainda dorme e os canais do satélite que abastecem a internet da cidade ainda não estão congestionados. Um pequeno transtorno que não chega ser um problema.
O Rio Fitzroy desce das montanhas da Cordilheira trazendo água do degelo para abastecer o grande Lago Viedna e descreve sinuosidades pelo vale, destacando o azul de suas águas em contraste com as cores do seu entorno.
El Chalten fica no extremo norte do mesmo Parque Nacional los Glaciales, onde vistamos o Glacial Perito Moreno (postagem de 23/2). É uma imensa área de mais de 700 mil ha de montanhas, vales, estepes e lagos de uma beleza impressionante.
Numa trilha tranquila em direção as montanhas, chega-se a uma bela cascata denominada Chorrillo del Salto. Aqui as pessoas contemplam a água cristalina do degelo acima que escorre em direção ao rio Fitz Roy. A cidade e a região são especialmente dedicadas a quem gosta de longas caminhadas e escaladas. Há inúmeras trilhas para subir as montanhas ou áreas de acampamentos que consomem de 5 a 8 horas de caminhadas. Vemos pelas ruas e trilhas aquele biotipo de pessoa de todas as idades e nacionalidades que são dedicadas a caminhar, com seus trajes específicos, bastões e mochilas coloridas e complexas as costas, como se caramujos fossem. Andam sem pressa porque a paisagem é um bálsamo.
Depois de uma viagem tranquila, agora em direção oeste à partir do litoral em Rio Gallegos, chegamos ao pé da Cordilheira dos Andes numa encantadora cidade turística chamada El Calafate. Lugar de uma parada obrigatória de alguns dias para podermos percorrer seus atrativos naturais, que são inúmeros. Hoje encerra um grande festival de música que a cidade promove anualmente no mês de fevereiro. Grandes nomes da música popular argentina desfilam pelo complexo montado para estes shows que são totalmente gratuítos. A cidade está cheia de turistas e foi difícil encontrar um hotel.
A fusão da margem do Lago Argentino com o chão da Patagônia é um jogo de contrastes: um, sendo líquido e móvel, junta-se com o outro que é fixo, árido e coberto por plantas resistentes a seca. Na linha sinuosa entre os dois, ora a água avança e arranca terra e plantas, ora a aridez predomina e se expõe ao sol ou a neve.
Pouco antes de chegarmos a El Calafate, visitamos um sítio arqueológico com algumas cavernas e inscrições rupestres, o Punta Walichu. O local fica na margem do lago Argentino e conta uma ponta da hitória de uma ocupação humana de milhares de anos. Local muito bem escolhido pelos nativos de outrora, já que a beleza é incrível, apesar de imaginar que aqueles povos andavam mais atrás de lugares com abrigo e alimentação do que de contemplação.
Nestes paredões existem cavernas com alguns desenhos pré históricos de habitantes das margens deste belo lago de cor turquesa.
Desenhos originais e réplicas deles estáo em algumas das paredes rochosas deste local. Há um material de apoio para o visitante, apesar da infraestrutura do local ser pífia. Vale mesmo é sentar ali e deixar o passado atravessar a mente e imaginar suas histórias, uma vez que o silêncio é perfeito, dada a baixa visitação. Lugar ideal para uma introspecção.
Mesmo no final verão, algumas planta ainda florescem nesta estepe árida, compondo quadros interessantes na paisagem. Ao fundo, as cristas das montanhas da Cordilheira dos Andes, para onde seguimos. Amanhã contamos um pouco mais sobre elas e suas geleiras e glaciares, como o mais famoso deles - Perito Moreno. Aguardem.
Nosso último dia aqui na Terra do Fogo foi brindada com uma vista espetacular da baía de Ushuaia. Cedo pela manhã o sol fez uma obra de arte com as tintas emprestadas pelas nuvens e sua luz, compondo quadros inesquecíveis de um começo de dia no início do mundo. Seguimos para o norte tranquilos e com este presente na retina.
Olhando esta baía, que se abre para o Oceano Atlântico, fico imaginando como foi a impressão que os nativos daqui tiveram quando viram as caravelas entrando por aquela passagem de mar que está a frente. Por ali entram, ainda hoje, mais de 300 transatlãnticos por ano, despejando milhares de turistas de todo o mundo para conhecerem este lugar magnético. A surpresa dos Yamanas, os habitantes originais da região ao verem de dentro de suas canoas de cascas de árvores, é a mema de hoje para quem fica olhando aquela entrada misteriosa cercada por duas montanhas, com se estivessem ali para viagiarem a entrada da baía. Mudaram os barcos, as vestes e habitos das pessoas, mas a geografia da misteriosa entrada não.
Inciamos o retorno até Rio Gallegos para acessar a Ruta 40, que amanhã nos levará ao pé da Cordilheria dos Andes, até a cidade de Calafate. No caminho de volta registramos este casal de curicacas, a mesma espécies que é frequentemente vista nos gramados de Canela e Região das Hortênsias. Elas habitam estes ambientes abertos de campos, exatamente como aí.
Na vinda, conforme já relatamos, perdemos 5 horas aqui no Estreito de Magalhães, entre papelada na aduana e passagem de balsa (foto). Hoje foi tranquilo e não levamos mais de 40 minutos entre espera e passagem. Apenas um contratempo na aduna do Chile, com uma visível má vontade de um dos funcionáros, nos retardou um pouco. Logo tudo se resolveu e seguimos para Rio Gallegos. O dia não tinha movimento, com poucos veículos e menos caminhões ainda.
As praias, aqui no Estreito de Magalães, não lembram em nada as da costa do Brasil. A nossa areia branca é a aqui substituída por pedras roladas, os seixos - de cor cinza e de vários formatos. Poucos visitantes que andam por aqui não acabam levando no bolso uma ou duas destas pedras polidas, seja como um talismã ou uma simples lembrança do Estreito.
Cidade: : Ushuaia, Argentina
O Parque Ncional da Terra do fogo é um passeio imperdível para quem gosta de história, natureza e organização para que tudo isso seja visto e apreciado, sem transtornos. Um exemplo de administração, conforto e qualidade de visitação pelo equipamento e informações oferecidas e pelo cenário incomum, de rara beleza e energia.
Um local que atrai legiões de extrangeiros que curtem cada canto ou placa do parque. Nesta, onde praticamente todos que por ali passam, registram uma foto. Ela identifica o parque, a baía a frente e mostra distânca de Buenos Aires até aqui: mais de 3 mil quilômetros por toda a extensão da Ruta 3. Levamos 12 dias para percorrê-la de ponta a ponta. Valeu cada quilômetro.
Em 1946 alguém importou do hemisfério norte (Canadá/EUA) e liberou em alguns rios de Ushuaia, 26 casasi de castores. Eles são roedores que nos EUA são caçados para produção de pele. O objetivo era desenvolver a indústria peleteira por aqui. Não funcionou e se criou um grande problema ambiental no parque e em toda a região, já que os castores se espalharam e aqui não tem seus habituais predadores do local de origem - os lobos e ursos. Aqui eles destroem as árveres que não rebrotam e outras que morrem devido ao alagamento criado pelas suas represas.
O centro de visitantes tem um mirante com paineis informativos que permitem identificar muitas das aves do local, além de oferecer uma vista espetacular de lagos e montanhas.
Mirantes ligados por passarelas de madeira permitem sempre a melhor visão dos locais estratégicos, garantindo uma visita segura e sem causar impactos ao ambiente por erosão ou desmoronamentos.
A nossa Meriva, brava e desbravadoura, andou um pouco amolada nos últimos dias mas já está em plena forma. Nos conduz com segurança e espalha o nome de Canela e de nossos apoiadores por onde passamos. Desperta curiosidade, fotos e seguido temos que explicar o que é "Canela". Explicamos e deixamos o cartão com o enderço do blog e assim vamos fazendo amigos pelo caminho.
Cidade: : Ushuaia, Argentina
Barcos coloridos compõem a paisagem no porto de Ushuaia. Veleiros de diversos locais do mundo náutico chegam a este destino para curtirem o fim do mundo, ou o começo dele.
Tipos e formas de barcos contrastam com as primeiras canoas dos índios daqui, construídas de cascas de árvores nativas da região. O material de construção dos barcos foi substituído com o tempo, assim como os nativos....
Ponto de parada e visita de muitos transatlânticos, Ushuaia está na rota austral destes grandes barcos de turismo. Andando hoje pelas ruas centrais da cidade, constatamos o mosaico de idiomas falados, cores de peles e de cabelos, típos de olhos e o predomínio da faixa hetária mais alta das pessoass que circulavam pelas ruas e lojas. Verdadeiramente Ushuaia é uma cidade cosmopolita.
História encalhada. Este barco, construído nos EUA, serviu na segunda guerra mundial e depois veio para a região. Foi utilizado como rebocador até ser aposentado. Seu casco foi feito com pranchas de madeira de 4 polegadas de espessura (10 cm) e quilha de aço. Hoje serve de abrigo para aves e lentamente se deteriora, desmanchando as páginas da história levadas pela erosão do tempo, humilhando o seu passado.