A Pousada Potreirinhos
A pousada com sua cor icônica, numa tarde de outono
Sigo por uma estradinha sinuosa e de chão batido que só me permite andar a uma velocidade de não mais de 20 quilômetros por hora observando em cada curva um elemento paisagístico novo e emocionante, como os meandros do Rio Silveira a minha direita e uma densa mata de araucárias a esquerda. Passo por um mata burro e olho as vacas paradas ali perto da passagem e penso que podem pensar: “como ele consegue passar ali e nós não”. Vejo uma garça-branca-grande num banhado perto do rio, sem parceiro e parecendo meio fora do contexto do ambiente serrano. Finalmente avisto as icônicas casas vermelhas e, mais uns metros, chego na Pousada Potreirinhos de São José dos Ausentes.
O vale do Rio Silveira. A pousada se localiza a esquerda e acima da foto, escondida pela coxilha
Encravada no Vale do Rio Silveira, próximo ao leito calmo e cristalino do rio, a pousada tem um encanto próprio, um charme na sua cor vermelho Goia, herdada há tempos por sugestão de um dos primeiros pescadores que por aqui aportaram, que sugeriu a cor típica das casas da sua terra natal, a Noruega. É um mundo a ser descoberto na casa de fazenda que foi adaptada ao Turismo Rural e que hoje recebe gente de todos os lugares do Brasil e do mundo. Já na chegada os anfitriões Chico e Nilda se mostram incansáveis na simpatia e no bem receber os visitantes, que logo entram em sintonia com o casal e estabelecem um vínculo afetivo que só aumenta com o tempo de permanência no local.
Neste período de final de outono e quase inverno, a procura pela pousada é muito em razão da pesca de trutas que é feita no Rio Silveira. Pescadores profissionais e amadores acorrem para cá na busca deste esporte que é igualmente praticado em muitas outras partes do mundo. O Chico vai indicando os melhores lugares para a pesca e logo o rio recebe os aficionados por esta prática, que consiste em capturar e devolver o peixe utilizando iscas artificiais. Apenas o prazer da captura é o que vale, tendo como bônus o passar de horas num ambiente de natureza único que, entre arremessos e fisgadas, permite avistar lontras, capivaras, garças, caranchos, graxains, quero-queros, seriemas e marrecas.
O último mata-burro antes de chegar a pousada
O entorno da pousada é coroado por morros cobertos de campos nativos, lavouras de pastagens de inverno e matas de araucárias, um cenário que encanta qualquer um pela beleza plástica das dobras do campo, dos afloramentos de rochas e pelo vale por onde serpenteia o rio. Sempre há um lugar novo para ser explorado, um detalhe, uma cachoeira, um pequeno cânion ou um morro alto com vista espetacular do entorno. Caminhar pelo campo ou seguir pela margem do rio é uma prática recorrente aqui, que tem como alternativa as cavalgadas curtas ou longas, dependendo da vontade do visitante, sempre comandadas e guiadas pelo Tiago, filho do casal anfitrião. Assistir ao pôr do sol de um dos morros é um programa imperdível, uma vez que o visual que se tem para oeste é espetacular e, quando o final do dia apresenta algumas nuvens no horizonte, o espetáculo é ainda maior exibindo todas as variações possíveis da cor vermelha.
Interior da pousada com algumas alegorias que remetem à pesca das trutas
A gastronomia oferecida aqui é outro diferencial, contando com receitas crioulas vindas de antepassados e aperfeiçoadas pelas mãos hábeis da dona Nilda e sua nora Jéssica. Um desfile de pratos típicos, como a paçoca de pinhão com charque, a língua ao molho, suflês diversos, saladas, carne de panela, churrasco, saladas e sobremesas embalam as horas mágicas dos almoços. A tarde sempre tem um chá, biscoitos, pinhão cozido ou assado e o carinho dos donos em oferecer sempre o maior conforto a todos. A noite as sopas de legumes aquecem e fazem contraponto com outras iguarias que pedem sempre o acompanhamento de um bom vinho, que nunca falta nesta autêntica pousada rural. Vale cada metro da estrada para estar aqui.
Almoço típico aqui da pousada: receitas de sabor único.