Um museu no campo
Vista externa do Museu Waldemar dos Santos Boeira (Foto acervo Museu)
Museus são aqueles locais destinados a reunir objetos, documentos e outras coisas que pertenceram a uma comunidade em épocas passadas, numa tentativa criativa e oportuna de resgatar a história local ou regional, através de coleções interessantes que contam como era a vida dos primeiros povos e seu desenvolvimento. Pois aqui no Distrito de Silveira, distante 20 quilômetros da sede São José dos Ausentes, tem um destes preciosos lugares – o Museu Waldemar dos Santos Boeira. Acomodado dentro da fazenda secular da Família, o proprietário Francisco Boeira dedica-se a garimpar, identificar e catalogar peças e documentos que recontam com muitos detalhes a chegada de seus ancestrais na região. Rico em detalhes, as exposições reúnem coleções que mostram como viviam os seus avós, um dos pioneiros na exploração pecuária da região.
Detalhe do interio do Museu Waldemar dos Santos Boeira (Foto acervo do Museu)
Não satisfeito com o museu implantado, Francisco se dedicou nos últimos anos a criar um outro museu, este dedicado exclusivamente ao Tropeirismo, profissão de seus antepassados e de tantos outros que aqui moraram. Reformou um galpão antigo da fazenda e acomodou peças raras de uma época de tropeadas mostrando quão dura e diferente era a vida nos séculos passados aqui nesta região.
Vale muito uma visita ao local que fica na margem direita do rio Silveira, no lado oposto ao da vila. Uma estreita ponte de madeira permite o acesso a propriedade e aos dois museus. Já tinhas imaginado um local ermo, com uma vila de não mais de 800 moradores abrigar dois museus? Pois existe sim, e está aberto a visitação, depois de passar fechado o período mais crítico da pandemia.
Detalhe do interior do Museu do Tropeirismo (foto acervo do Museu)
Dentro desta propriedade ainda tem um outro museu, mas este aberto e no meio do campo. Trata-se de um conjunto de taipas de pedras que formavam um dos tantos mangueirões de que se utilizavam os tropeiros para reunir o gado durante suas longas e cansativas tropeadas. Ali, ladeado por araucárias que se instalaram ao longo do tempo, serpenteiam as taipas já barbudas de líquens, musgos e outras plantas que se acomodaram na segura e resistente estrutura. Quantos cascos e guampas por ali andaram num passado não muito distante, quantos tropeiros se abrigaram do clima medonho dos invernos destes campos; quantos arroz-de-carreteiros e churrascos foram feitos em fogos de chão temperados com mil histórias durante as noites clareadas ou escurecidas, dependendo das fases da lua; quanta imaginação embalou as mentes dos tropeiros aquelas milhares de estrelas no céu de pouca luz. Fossem as pedras destes muros testemunhas falantes, e não mudas, poderíamos saber muito mais do que já foi garimpado e escrito pelo Francisco que não cansa de desenterrar objetos deste local, sejam cacos de cerâmica, restos de esporas ou o que mais aparecer pelo terreno que tenha junto consigo um pedaço de história.
Mangueira de pedras multissecular da época do tropeirismo
Assim é o Distrito de Silveira. Um local cheio de biografias e de pessoas dedicadas a salvar seu passado do esquecimento. Parabéns ao Sr. Francisco pela dedicação e paciência em reunir tanta história regional em sua propriedade e, mais importante que tudo isso, permitir que esta história seja vista por quem se interessar por ela. Morremos nós, mas a história permanece.