As araucárias do Vale do Rio Silveira
Aqui na região do Vale do Silveira, em São José dos Ausentes, ainda é possível ver uma quantidade considerável de araucárias dominando o cenário das matas de encosta e beiras de rios e arroios. Esta magnífica espécie de pinheiro, que é nativo da América do Sul, teve um apogeu de desenvolvimento até as primeiras décadas do século XX, quando foi dado início de sua exploração comercial mais intensa e as madeireiras se multiplicaram por todas as regiões dos três Estados do sul do Brasil, onde a espécie é mais presente. A partir de 1980, devido a superexploração das décadas anteriores, os pinheiros ficaram ameaçados de extinção e o governo implementou regras e proibições de corte. Hoje a demanda sempre crescente desta matéria prima foi substituída pela madeira do pinus, um pinheiro nativo do hemisfério norte e do eucalipto, nativo da Austrália. Ao contrário da araucária, estas duas espécies tem um crescimento muito mais rápido e um aproveitamento comercial mais rentável.
Devido a esta restrição de mais de 40 anos, as matas de araucária se recuperaram em muitos lugares do nosso planalto e aqui, no vale do Rio Silveira existem alguns rincões que podemos imaginar como os nossos ancestrais viram pela primeira vez estas matas, devendo estar muito próximo daquilo que os encantou. A recuperação desta espécie é possível ser vista em qualquer caminhada que se faça pelas matas, atestando o grande número de pinheiros com diferentes estágios de desenvolvimento e idade, sem contar as centenas de pequenas mudas germinadas nas bordas e que devem enfrentar as queimadas de inverno. As que sobrevivem, seguem para mais um ano com mais altura e galhos para se fortalecerem e enfrentarem as próximas queimadas e o pisoteio do gado.
O pinhão, esta incrível semente dourada da araucária, nesta época de outono/inverno é excepcionalmente abundante neste ano de 2021, sendo encontrado no chão das matas debulhados de suas pinhas pelas gralhas, papagaios ou o vento. O dourado das suas cascas parece pontos de luz dentro do mato, sendo assim prontamente encontrados pelos animais nativos e exóticos. Sei de outros lugares que saracuras, cutias, vacas, javalis, catetos, veados, quatis e muitos outros animais se alimentam de pinhões encontrados pelo chão, sendo este um recurso alimentar de extrema importância devido ao alto teor de nutrientes ofertado durante um dos períodos mais críticos do ano, ou seja, a entrada do inverno quando a maiorias dos frutos e sementes de outras espécies já não estão mais disponíveis.
Para que se tenha pinhão as flores das pinhas dos pinheiros fêmeas têm que ser fecundadas pelo pólen dos pinheiros machos. Este processo é facilitado pelo vento na primavera que espalha o pólen pelas matas garantindo assim a fertilização nas pinhas. Por este motivo a mata de araucárias tem que ter sempre um número equilibrado de árvores masculinas e femininas para haver uma boa safra de pinhões e, com isso, a possibilidade de que alguns dos milhares que são produzidos a cada ano, germinem e formem novas araucárias, cumprindo assim sua missão mais nobre.