Pela margem do rio Silveira
Rio Silveira com antigas taipas de pedras em sua margem esquerda. Ao fundo, o Morro Maracajá
Andar pela margem do rio Silveira é uma coisa que me agrada muito aqui pelas terras da Pousada Potreirinhos. Atravesso o rio num “passo”, lugar onde se pode cruzar a pé com relativa facilidade, pego a margem esquerda que é coberta de campo e sigo os meandros sem pressa, subindo, descendo, apreciando o espetáculo que a cada passo muda e encanta. Cruzo uma taipa de pedras que devem ter sido empilhadas ali muito, mas muito antes de eu ter nascido, e fico apreciando o serviço dos taipeiros que encaixaram uma a uma de acordo com o seu tamanho e forma para que, juntas, criassem uma barreira para o gado e uma demarcação de propriedade. Penso em todas aquelas pedras soltas pelo campo e que foram reunidas e ordenadas para este fim num trabalho duro e comandado por profissionais. Em alguns lugares esta taipa, que corre paralela à margem esquerda do rio, perto da Pousada Potreirinhos, desintegrou-se e novamente as pedras foram espalhadas e cada uma assumindo um novo lugar no campo, outras rolaram para dentro do rio e se foram adiante durante as cheias, batendo-se contra outras, lascando, quebrando e se transformando em fina areia depositada em alguma curva do rio mais abaixo.
Leito do rio com rochas cobertas de musgos
Continuo caminhado e chego num pequeno arroio afluente que entrega suas águas frias e calmas ao rio maior. Resolvi seguir este pequeno arroio e logo mais adiante vejo a sua nascente caracterizada por um grande banhado numa depressão do campo. O gado aqui não anda muito devido a facilidade com que pode se afundar na grande turfeira que domina o banhado. Esta turfeira é interessante por ser formada por um tipo de musgo – a turfa, que é adaptado a viver nestes locais de grande umidade. Pego um pouco deste musgo e fico observando sua estrutura que mais parece uma minifloresta onde as “árvores” estão muito próximas umas das outras, formando uma unidade que consegue absorver e reter uma quantidade muito grande de água da chuva e do olho da nascente. Assim, a turfeira do banhado recebe a água, armazena, utiliza para si e libera aos poucos o excesso em direção ao arroio. Grande importância tem estes musgos e estes banhados para minimizar os efeitos das secas.
Trecho do Rio Silveria e os banhados com turfeira que armazenam água da chuva e das nascentes
Mais adiante encontro uma pequena corredeira que se formou num degrau do leito do rio. Ali a água se espalha e se atira em dezenas de irregularidades das rochas formando grande número de pequenas cachoeiras, entremeadas por musgos adaptados à viverem no leito do rio. Fico observando que estes musgos se instalam e se desenvolvem apenas naqueles pontos onde a água não circula com frequência, porque do contrário, não sobreviveriam. Já vi em outros lugares, outra espécie de musgo que se desenvolve sob a água corrente, o que torna o caminhar descalço por estes lugares um grande prazer, como se fosse um carpete macio e molhado. Retorno a pousada carregado de imagens na minha retina e no cartão de memórias da minha câmera. A diferença de um armazenamento para o outro, é que no primeiro as imagens são carregadas junto com os sons, cheiros e o calor dos lugares. Isto é insubstituível. Ainda.