Batatas e brócolis
Sr. Macedo duarante a colheita em uma de suas lavouras
Por quase todo os locais com terras aráveis no vale do Rio Silveira, encontro lavouras anuais de batatas e, mais recentemente, de brócolis. São duas culturas que se adaptaram muito bem ao clima dos campos altos daqui da região nordeste do Rio Grande, com suas terras negras e virgens numa topografia ondulada e, por vezes bastante dobrada que exige dos agricultores maquinário e técnicas adequadas para terem sucesso. Arar o campo milenar e transformar o que era um tapete com centenas de espécies de plantas em um local com apenas uma espécie, no caso ou batata ou brócolis, é equivalente ao que se faz com o pinus, apenas que a colheita, ao invés de demorar 20 ou 30 anos no caso dos pinheiros, leva apenas uma estação.
Batatas prontas para a colheita
Gosto de batatas, principalmente fritas ou como purês, envoltas em uma maionese caseira, raladas, temperadas e fritas como bolinhos ou gratinadas com manteiga, páprica e alecrim. O Brócolis vai bem como salada ou num risoto com queijo gorgonzola, que é pouco mais cremoso e decidido do que o roquefort. Sempre que como batatas fritas salgadas no ponto, e que a minha mulher insiste em dizer que “é sal demais”, lembro do árduo trabalho dos dedicados plantadores de batatas de São José dos Ausentes e de outros rincões do nordeste deste nosso rico Estado. Conheço o Sr. Macedo, um dos plantadores nativos de São José dos Ausentes que se dedica com os filhos a esta atividade. Plantar, acompanhar o crescimento, torcer por uma boa chuva na hora certa e apostar na maturação dos tubérculos para que se proceda a colheita transporte, lavagem, armazenamento e posterior comercialização, é um desafio anual. Além de plantar a safra para a colheita e comercialização, os produtores ainda têm que pensar no plantio das “sementes” para o próximo ano, que será uma safra colhida após aquela que foi comercializada, quase sempre já na entrada do inverno, o que torna o serviço muitas vezes penoso devido ao frio extremo da região.
Lavoura de brócolis
Os brócolis são plantados através de mudas trazidas por empresas especializadas que, além de as fornecerem junto com os insumos, compram toda a safra do agricultor. A este compete a preparação do solo, o plantio, cuidados durante a maturação, colheita e transporte. A maior parte dos brócolis plantado por aqui é dedicado a exportação para outros estados devido a sua alta qualidade. Após a colheita da flor, única parte destinada ao consumo humano, fica no campo o pé com a folhagem exuberante, verde escura e suculenta que é oferecida ao gado e aos cavalos, que as devoram em poucos dias, ficando no campo apenas os talos nus. Exemplo de cultura que serve para dois mundos: o humano e o dos animais do campo, ao contrário da batata, a qual suas ramas não são aproveitadas como forragem porque são secadas antes da colheita. Até duas safras de brócolis podem ser colhidas num bom ano agrícola, que tem um ciclo de aproximadamente 75 a 90 dias do plantio da muda até a colheita.
Brócolis no ponto de colheita
A dupla B/B - Batata/Brócolis, veio com muita força por aqui, garantindo boas batatas para fritar ou para outros fins acompanhadas de belas e nutritivas saladas e risotos de brócolis. São outros tempos, diferentes daqueles em que os primeiros gaúchos por aqui chegaram e viam o campo apenas com potencial para criação de gado e cavalos. Como tudo, há apenas que se ter claro os impactos de uma cultura sobre o ambiente, devendo as regras de cuidados com as nascentes e proteção dos cursos da rica água que existe aqui, serem observadas e respeitadas.