Blog Vale do Rio Silveira

Praias escondidas do Rio Silveira

Uma das praias escondidas do Rio Silveira

Nesta primavera de 2021, seguindo o meu roteiro para conhecer novos lugares do Vele do Rio Silveira, mirei em uma trilha que me levasse a uma praia em uma área de campo aberto. Seguindo trilhas e velhas estradas de madeireiras do século passado, cruzei matas densas de araucárias com xaxins seculares que podem ser vistos as dezenas, com suas folhas novas já formadas e se projetando em direção a luz naquela penumbra refrescante e misteriosa da mata. A sombra e o frescor oferecido pelas árvores me estimularam a seguir em frente, mas sempre atento a sons e cheiros do ambiente novo. Gritos de uma ave que desconheço, cantos de outras conhecidas de pitiguari, tico-tico, corruíra, graúna, quiri-quiri, choca-da-mata, maria-faceira, gralha-azul e gavião-carrapateiro me acompanharam pela trilha de pouca luz e muitas árvores. Segui com vagar e encontrei ora locais embarrados, onde cruzavam pequenos arroios que desciam suas águas para o rio que corria sempre a minha esquerda, ora obstaculizada onde havia alguma árvore caída, ou serena e plana onde o terreno permitia, tornando a caminhada muito agradável.  

Rio Silveira na altura da Cachoeira do Puma, emoldurado pelos xaxins

Um tempo depois, saí numa área de campo aberto e segui na direção do vale entre arbustos de maria-mole que já começaram a florescer, na esperança de ver o rio que tanto me encanta. Percebi que ele estava muito abaixo do ponto de onde saí, o que me forçou a descer pelo campo até mais próximo do leito. Andei até conseguir ver a água ligeira que escorria sobre as pedras negras, mas ainda muito abaixo, parecendo que ele pedia para eu seguir até ele. Desci mais um pouco por uma dobra do campo e finalmente cheguei a uma belíssima praia com as margens gramadas, o que me permitiram chegar tranquilamente até a água que corria tranquila. Nada de lixo plástico ou latas de cerveja, nada de pneus perdidos, apenas grama, restos de galhos e folhas trazidas e acumuladas pela última cheia, além de esterco fresco de capivaras. No outro lado, uma densa mata onde muitas árvores estão com uma floração intensa, como o cambará, ou trocando suas folhas, o que empresta um colorido especial ao conjunto.

Praia tranquila do Rio Silveira

Caminhei pelo leito raso do rio, vi uma garça-moura voando sobre a lâmina d’água fugindo silenciosa e elegantemente de mim, alguns suiriris caçando insetos no ar, uma saracura rápida se escondendo nas macegas da margem, peixes pequenos agitados, girinos chafurdando no lodo de uma depressão da rocha, um martim-pescador passando para conferir o melhor poleiro para sua pescaria e o grito inconfundível de um carancho pelo campo próximo.

Pica-pau-do-campo sempre presente ao longo da caminhada em área aberta

Fiquei ali muto tempo apreciando o silêncio sinfônico desta praia que encontrei e percebi que sim, ainda tem lugares onde a natureza se expressa plenamente, sem a intervenção humana, fazendo com que me sentisse um intruso. Depois pensei e percebi que não era um intruso, mas apenas mais um silencioso e curioso elemento do sistema natural do lugar e assim fiquei, sem exigir nada, sem emitir nenhum som além daqueles dos meus passos na água, e sem deixa nada além do meu cheiro e do meu visual. Foram momento intensos de troca e conhecimento nesta praia escondida do Rio Silveira, onde mais ganhei do que dei. Saí saboreando os momentos e pensando que a natureza é sábia e generosa por oferecer sua energia a todos, sem pedir troco.

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