As florestas de pinus
Toras de pinus com cerca de 25 anos
Ao longo do vale do Rio Silveira existem vários lugares que estão cultivados com extensas florestas de um pinheiro exótico conhecido popularmente por pinus. Trata-se de uma espécie que foi trazida de terras do hemisfério norte, lá do sul dos Estados Unidos e do norte do México, a partir do final da década de 1940. O objetivo da importação foi o de oferecer uma espécie que tivesse um desenvolvimento rápido e fornecesse matéria prima para as indústrias madeireiras e de celulose. No Rio Grande do Sul os plantios intensivos iniciaram na década de 1970, após a quase exaustão das florestas de araucária e das leis restritivas que foram implantadas na tentativa de evitar a extinção dos nossos pinheiros nativos – a araucária e o podocarpos (pinho-bravo).
Floresta de pinus em ponto de corte
O pinus gosta de solos pobres, ácidos e de áreas úmidas, como são os nossos campos de altitude; incentivos governamentais surgiram para estimular os plantios; leis restritivas e protetivas foram criadas para proteger as florestas nativas; a demanda de matéria prima continuava sempre crescendo. Estes fatores reunidos criaram as condições para o início da era do pinus por aqui, quando grandes extensões de campos naturais foram cultivadas com estes pinheiros de crescimento rápido, modificando a paisagem e o ecossistema complexo e milenar dos campos de altitude, quando uma diversidade de mais de 600 espécies de gramíneas e outras plantas, deram lugar a uma única espécie de pinheiro.
Floresta de pinus em época de corte
Hoje, grandes indústrias de processamento de madeira vivem exclusivamente da exploração desta espécie, criando uma cadeia produtiva que envolve do plantio a extração e beneficiamento, gerando muitos empregos e impactos que são absorvidos e minimizados se pensarmos que, não fossem eles – os pinus, provavelmente não existiria mais um pé de araucária, ou canela, ou canjerana, ou grápia, ou cedro, ou cerejeira, ou ipê e tantas outras espécies das matas que serviam de matéria prima e que agora são protegidas pelas leis ambientais.
Floresta de pinus com cerca de 20 anos, plantada sobre campo nativo
Tudo tem um preço, e a utilização de madeira como matéria prima para um cem número de utilidades, é inquestionável e irreversível. Agora mesmo eu estou escrevendo esta crônica com o meu computador apoiado em uma mesa de madeira aglomerada, muito provavelmente feita com madeira de pinus. Olho pela janela e vejo uma obra que está sendo executada aqui perto e o tapume, as formas para o concreto e as tábuas para o piso dos andaimes, são todos feitos com esta madeira de pinus. Poderia aqui enumerar uma longa lista de subprodutos desta fibra de pinus, mas vou me restringir apenas a estes dois exemplos. Não há mais espaço para que se tenha pudores contra estas florestas, a menos que se descubra um outro material que substitua satisfatoriamente as fibras desta madeira. Um regramento sim, evitando plantios em áreas frágeis, nascente e margens de rios e arroios, deve ser mantido e fiscalizado pelos órgãos responsáveis. O pinus veio salvar a araucária, e assim o vejo e respeito hoje, apesar de, lá pelas décadas de 70 e 80, eu ter visto estas florestas como invasoras e destruidoras da nossa biodiversidade dos campos. Hoje compreendo sua utilidade, mas sem esquecer do seu preço. Assim como tudo.