Saboreando a lua cheia
Madrugada no Rio Silveira com a luz da lua cheia
A luz da lua cheia é baça, sutil, intrigante e estimula minhas pupilas a se dilatarem ao máximo, assim como aquelas dos gatos a noite. O belo luar desta noite é apenas o reflexo daquele sol que passou o dia por aqui iluminando tudo e a lua é apenas um espelho refletor, como se o sol a usasse para atenuar a escuridão da noite. Caminhar durante uma madrugada iluminadas pela lua é um dos prazeres quase indescritíveis que tenho e que permite confirmar aquela máxima de que, “a noite, todos os gatos são pardos”. Com a pouca luz que chega aqui, as cores da natureza desaparecem da minha vista. Somem o verde, o vermelho, o amarelo. Tudo fica em tons discretos de cinza que, ora é mais claro, ora mais escuro. Isto tem relação com o nosso olho que está adaptado a enxergar a cores e, para isso, tem que ter muita luz no ambiente. De dia, tudo colorido. À noite, tudo monocromático em tons de cinza.
A lua cheia deixando a paisagem monocromática
Este também é um dos encantos da lua cheia. Ela me permite entender, mais ou menos, como enxergam os animais de hábitos noturnos. Sem as cores, a paisagem se transforma numa fotografia antiga, aquelas em preto e branco, que me remete ao passado, ao início (no caso da fotografia), e me permite exercícios interessantes de tentativas de comparar os objetos conhecido com e sem suas cores.
A dança da água do Rio Silveira
Numa destas noites de lua cheia, estando aqui na Pousada Potreirinhos, resolvi fazer alguns registros pelo vale. Entrei no rio Silveira, em um raso, e instalei o equipamento para brincar com as imagens em movimento produzidas pelas corredeiras do rio. Horas de puro encanto com o som da água e a luz dançante que se exibia faceira no seu reflexo. No entorno, o campo dormia em preto e branco e minha lanterna ora ou outra, mostrava os olhos brilhantes de uma capivara curiosa ou do gado deitado quieto no silêncio da madrugada clara.
O fim da madrugada marcado pela chegada do sol
O frio, a umidade e a hora avançada, forçaram minha saída da água e só aí percebi que o dia estava se armando para ressurgir. Olhando para o leste, uma barra clara no horizonte denunciou que o sol estava próximo. No Oeste, ainda encantadora e prateada de todo, a lua se negando a abandonar a noite. Voltei para a pousada e esperei pelo sol que, de um lado espiava e iluminava a paisagem e a lua, no lado oposto, agora já parecendo muito fraca, apressava-se em se esconder, assim como os morcegos. Logo o senhor da luz invadiu tudo, devolveu as cores a natureza, minhas pupilas se contraíram e fui dormir feliz, não sem antes me despedir de quem saía e saudar a quem chegava.