Blog Vale do Rio Silveira

Cactos do Vale do Rio Silveira

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Cacto-bola exibindo suas flores durante a primavera

Os cactos são plantas muito interessantes por vários motivos, sendo um deles a sua adaptação a uma vida em ambientes de pouca água. Nas árvores, como a guabirobeira ou o cedro, as folhas são as responsáveis pela produção de alimento, como açúcares e proteínas, através da fotossíntese. É um mecanismo quimicamente muito complexo que transforma água e gás carbônico em alimento, utilizando a energia da luz solar como propulsora. Mas as folhas também exercem a função de evaporação da água, fazendo o papel de uma bomba que faz a água, vinda do solo através das raízes, circular pela planta. Muitas folhas, muita evaporação, muita perda de água, apesar dos mecanismos existentes para controlar o excesso de perda de água.

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Os cactos transformaram suas folhas em espinhos e seus caules em uma folha única, controlando melhor a perda de água e permitindo a vida em ambientes desérticos. O caule verde dos cactos faz o papel das folhas, realizando a fotossíntese e a evaporação. Sem as centenas ou milhares de folhas, os cactos conseguem controlar melhor o recurso da água, além de transformarem seus caules em imensos reservatórios de água dentro de tecidos especializados, parecendo mesmo esponjas encharcadas.

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Cacto-bola dividindo espaço na rocha com os líquens

Aqui, no vale do Rio Silveira, encontrei algumas espécies de cactos que medram sobre as pedras expostas dos campos e beiras do rio e arroios. Lugares onde outras plantas não resistiriam, lá estão os cactos dividindo espaço com outros organismos muito bem adaptados a viverem nas rochas: os liquens. Cactos e líquens convivem nestes locais e isto me mostra a tremenda força adaptativa dos organismos. Os líquens, que nem plantas são de tão primitivas – são formados por fungos e algas em uma associação permanente, dividem a pedra com os cactos enraizados nas frestas com o mínimo de solo exibindo flores, sementes e frutos. Parece mesmo que durante a evolução os cactos aprenderam com os liquens, mais antigos, como é a vida nas pedras. Desenvolveram uma outra estratégia de vida, diferente dos líquens, mas que lhes permite viverem no mesmo ambiente inóspito dos afloramentos rochosos do campo, com suas temperaturas escaldantes durante o verão, congelantes durante os invernos e com pouca água.

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O cactos-bola é o mais frequente por aqui e suas flores amarelas logo são notadas durante minhas caminhadas pelos campos. Algumas vezes formam grande maciços forrando completamente as rochas, parecendo uma cama de faquir, com aqueles espinhos em forma de ganchos que nada lembram as folhas que foram um dia. Espinhos para diminuir a evaporação e para protegerem o caule tornam os cactos organismos únicos, incomuns e testemunhos de um tempo em que o clima por aqui já foi muito seco, desértico mesmo. Encontrar estes cactos pelo vale é como ver uma parte do passado geológico da região, juntamente com as rochas, as araucárias e os xaxins. Um saludo aos cactos.

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