Blog Vale do Rio Silveira

Inverno no Vale do Silveira

Leito do Rio Silveira com pouca água e o campo com sua cor de inverno

O inverno deste 2021, aqui pelo vale do Rio Silveira, está se apresentando com grande alternância de temperaturas, indo de quase insuportáveis 8 a 10 graus negativos com geadas e nevascas, até dias ensolarados e quentes, como neste início de agosto com muitos dias ensolarados e uma perspectiva de seca que já é percebida pela pouca quantidade de água nos arroios e no próprio rio Silveira. Esta situação de poucas chuvas favorece o trabalho de andar pelo leito rochoso do rio e me permite fazer registros fotográficos que em tempos de vazão normal, não poderia. Os grandes lajeados que se formam aqui nas terras da Pousada Cachoeirão dos Rodrigues, criam poços, corredeiras, rasos e remansos que se prestam a contemplação através de uma caminhada pelas águas ligeiras do rio ou pelas suas margens. Troncos trazidos pelas cheias descansam nas rochas, torcidos e quebrados que foram, e ali aguardam novas ondas de enchentes para serem quebrados, moídos e levados mais adiante até se transformarem em pedaços cada vez menores e encalharem em alguma curva rio abaixo, eliminando qualquer vestígio de sua identidade anterior.

Tronco arrastado e depositado no leito do rio, vindo de algum lugar a montante

A caminhada pelo leito me mostra um mundo de vida. Peixes capturam insetos que pousam na água, criando ondas que migram até sumirem nas margens: caranguejos podem ser vistos tranquilos nos rasos pela transparência da água sabendo que, a noite, podem ser apanhados por algum mão-pelada ou graxaim-do-mato; o fundo dourado de alguns locais proporcionado pela cor de algumas rochas, cria a ilusão de um leito forrado de ouro; as pequenas quedas e corredeiras, devido ao baixo volume, permitem aproximação e registro de movimentos de água de tantas variedades e formas que fica difícil escolher um ângulo ou um detalhe; o campo no entorno do rio mostra a cor da estação, com seu dourado forte e contagiante, prendendo o olhar nas coxilhas e nos vales, ponteado com o gado que anda em mandas pequenas ou pelos capões de araucárias insistentemente verdes; gaviões-carrapateiros emitem seus gritos de “quiéééé´” cortando a manhã ou o final de tarde; bandos de graúnas, negras como uma noite sem lua, empoleiram-se pelos pinheiros e bracatingas do entorno da Pousada e passam muito tempo cantando e piando até o ponto de alguns hóspedes dizerem: “parem com este barulho”....; já vejo as corucacas prepararem seus ninhos que são formados por gravetos nos galhos mais altos das araucárias, dizendo que a primavera não tarda; um bando de tiribas, não tendo muita opção, comem os brotos ainda dormentes localizados nas pontas dos galhos sem folhas.

Leito raso do Rio Silveira com rochas parecendo depóstios de ouro

Assim está sendo o inverno por aqui, sem que se saiba o quão ameno ou severo será ainda nos seus dias restantes, mas tendo que igualmente ser enfrentado por plantas, homens e bichos nativos. O turista que vem atraído pelo frio e a natureza, pode assim ter uma pálida e rápida ideia de como é dura a vida dos moradores locais nestes meses de dias curtos. A beleza cênica não aplaca o frio, o calor intenso ou a seca, mas embala a alma e encanta a vista de quem é atraído para cá, numa tentativa de minimizar o rigor deste ponto do paralelo 29 Sul do nosso Rio Grande.

Vimeiros sem folhas na margem do Rio Silveira, indicando o rigor do inverno.

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