As lontras do rio Silveira
Lontra curiosa me olhando, poucos segundo antes de sumir no rio Silveira
Criar peixes em açudes para pesca esportiva ou de subsistência, é uma prática comum em quase todos os rincões dos campos daqui de São José dos Ausentes. Peixes nativos ou exóticos são criados em açudes e permitem aos proprietários uma oferta de proteína animal que se completa com a carne de gado ou da ovinocultura. Como todo negócio rural, a criação de peixes também tem seus problemas relacionados a predadores que enxergam, na criação, um fácil mercado para satisfação de sua fome. Entre os criadores de gado, ovelha e galinha, aparecem o puma, o graxaim e a jaguatirica para dividir o butim.
Hábil em nadar e mergulhar, é muito arisca e de difícil visualiação
Na piscicultura, um dos sócios mais odiados pelos criadores é a lontra, animal nativo que habita todos os rincões do nosso Rio Grande onde tenha boa oferta de água e, evidentemente, de peixes. Exímias caçadoras, as lontras vivem em rios e açudes fazendo suas tocas nas barrancas mais escondidas, onde também criam seus filhotes. Muito bem adaptadas a vida aquática, nadam e mergulham com destreza e desaparecem da vista quando flagradas, submergindo por muito tempo nas águas mais profundas ou escondendo-se entre a vegetação das margens.
Pescador de trutas no Rio Silveira neste outono de 2021
Parente das iraras que, ao contrário, habitam as matas, as lontras comem quase exclusivamente peixes, o que é possível constatar em uma rápida olhada em suas fezes, quase sempre encontradas sobre alguma rocha ou barranco fora do rio. Escamas e alguns poucos ossos, além dos otólitos – aquelas pequenas pelotas calcáreas que ficam dentro do ouvido interno dos peixes, são vistos com muita frequência, podendo permitir até a identificação do peixe que foi predado.
Uma captura de truta
Os pescadores que vem nesta época para o Vale do Rio Silveira, notadamente aqui nas Pousadas Potreirinhos e Cachoeirão dos Rodrigues, tem enfrentado este predador com bastante frequência e relatado encontros com as lontras que, já um pouco acostumadas com eles, ficam aguardando a libertação das trutas capturadas para, em seguida, predá-las. A explicação que um destes pescadores me deu é que as lontras aprenderam que logo após uma captura, as trutas, já cansadas e até um pouco feridas pelo esforço de se soltar da linha, são presas muito mais fáceis de serem apanhadas do que as que estão saudáveis. Confesso que desconhecia este comportamento das lontras e, se confirmado, parece uma brilhante adaptação destes mustelídeos ao novo que se apresenta em seu ambiente: as trutas, que foram ali introduzidas, e os pescadores. A natureza e suas necessidades é mesmo uma fábrica permanente de adaptações.