Blog Vale do Rio Silveira

Os xaxins

Eu cresci vendo e ouvindo histórias sobre os xaxins aqui na região de Canela, quando se contava que ruas e calçadas eram pavimentadas com os troncos desta planta primitiva, muito antes de servir para confecção de vasos. Quando comecei a conhecer e explorar a região dos cânions, inicialmente em Cambará do Sul, encontrei verdadeiras relíquias de xaxins abrigados entre gigantescas araucárias numa área próxima da borda do cânion Itaimbezinho. Dezenas de exemplares como nunca tinha visto em tamanho e diâmetro estavam concentrados próximos de exemplares igualmente gigantescos de araucárias esquecidas pelos madeireiros. Era mesmo uma outra floresta embaixo dos pinheiros. Mais tarde observei outros adensamentos muito significativos desta planta, sempre em locais de difícil acesso e em encostas úmidas e sombreadas em vales do planalto.

Quase 70

Eu, no meu elemento.

Viver é uma janela de tempo que nos põe em constante luta para driblar as armadilhas que se espalham pelo caminho, mas também com muitos bons momentos. Estou muito feliz com a minha, que já é mais longa do que foi a dos meus pais e de dois de meus irmãos, e fico algumas vezes pensando como estariam eles hoje, mas não consigo formatar uma imagem deles. Tudo tem seu tempo, todos tem sua idade e sua função.

A liberdade do campo

Uma grande curva do Rio Silveira oferece uma incrível imersão na natureza

Tenho um prazer atávico de andar com vagar pelo campo abrindo completamente os meus sentidos para ver, sentir, ouvir e cheirar o ambiente. É alguma coisa difícil de traduzir, mas muito fácil de sentir. Os meus passos rascando no capim emitem um som de palha sendo dobrada que vai mudando a cada passo em função do lugar e da altura da grama. Assim, a música do meu andar é sempre nova e interessante mudando radicalmente quando chego em um afloramento de rocha ou entro num rio. Passos na água são mais silenciosos, mais cautelosos pelo fundo desconhecido, liso e irregular; passos nas pedras são mais ágeis e ligeiros, quase sem sons não fosse pela presença de alguns líquens que se dobram e estalam sob a sola da bota, informando que o tempo está seco.

O Rio Divisa

Cachoeira do Dez, local icônico do Rio Divisa.

O rio Divisa é o principal afluente da margem esquerda do rio Silveira. A origem do seu nome deriva da época em que dividia dois distritos do então município mãe - Bom Jesus, do qual se desmembrou para a criação de São José dos Ausentes. Nasce em banhados localizados perto do cânion Amola Faca, pouco mais ao sul das nascentes do rio Silveira, e segue para o oeste driblando a geografia e se metendo nas depressões e desfiladeiros do terreno, que são abundantes na região, até se encontrar com o Rio Silveira.

Praias escondidas do Rio Silveira

Uma das praias escondidas do Rio Silveira

Nesta primavera de 2021, seguindo o meu roteiro para conhecer novos lugares do Vele do Rio Silveira, mirei em uma trilha que me levasse a uma praia em uma área de campo aberto. Seguindo trilhas e velhas estradas de madeireiras do século passado, cruzei matas densas de araucárias com xaxins seculares que podem ser vistos as dezenas, com suas folhas novas já formadas e se projetando em direção a luz naquela penumbra refrescante e misteriosa da mata. A sombra e o frescor oferecido pelas árvores me estimularam a seguir em frente, mas sempre atento a sons e cheiros do ambiente novo. Gritos de uma ave que desconheço, cantos de outras conhecidas de pitiguari, tico-tico, corruíra, graúna, quiri-quiri, choca-da-mata, maria-faceira, gralha-azul e gavião-carrapateiro me acompanharam pela trilha de pouca luz e muitas árvores. Segui com vagar e encontrei ora locais embarrados, onde cruzavam pequenos arroios que desciam suas águas para o rio que corria sempre a minha esquerda, ora obstaculizada onde havia alguma árvore caída, ou serena e plana onde o terreno permitia, tornando a caminhada muito agradável.  

Cores da primavera

Íris-do-campo

Qualquer um que ande pelos campos do Vale do Rio Silveira durante a primavera e início do verão, fica impressionado com a diversidade de flores que se mostram de todos os tipos, tamanhos, formas e cores. Parece mesmo que cada uma quer ser mais vista e apreciada, chamando a atenção para si. Elas não estão interessadas em se exibirem para nós, humanos, mas sim as diversas espécies de insetos, morcegos, pequenos roedores e aves que vem buscar seu néctar, pétalas ou outro atrativo qualquer. A única exigência que as flores fazem a estes visitantes que se deliciam com seus açúcares, é a de levarem o pólen de uma flor a outra para garantir a fecundação e a produção de frutos e sementes no próximo verão.

O Morro Chato

Rio Divisa e o Morro Chato, ao fundo.

Avistado de longe, admirado e temido de perto. Assim é o Morro Chato, um grande platô de basalto que se ergue aos pés da margem esquerda do Rio Divisa desafiando aos mais aventureiros uma escalada pelos seus poucos pontos de acesso que dispensam cordas. Avistado a partir da estrada que dá acesso ao Vale do Rio Silveira, no acesso as pousadas Cachoeirão dos Rodrigues e Potreirinhos, encanta e intriga pelo tamanho e forma achatada que apresenta, diferente de outros morros de topo arredondado da região. De qualquer ponto deste local do vale, quando olho para o sul, lá está o Morro Chato, parecendo olhar e controlar tudo abaixo.

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