Blog Vale do Rio Silveira

A Pousada Potreirinhos

A pousada com sua cor icônica, numa tarde de outono

Sigo por uma estradinha sinuosa e de chão batido que só me permite andar a uma velocidade de não mais de 20 quilômetros por hora observando em cada curva um elemento paisagístico novo e emocionante, como os meandros do Rio Silveira a minha direita e uma densa mata de araucárias a esquerda. Passo por um mata burro e olho as vacas paradas ali perto da passagem e penso que podem pensar: “como ele consegue passar ali e nós não”. Vejo uma garça-branca-grande num banhado perto do rio, sem parceiro e parecendo meio fora do contexto do ambiente serrano. Finalmente avisto as icônicas casas vermelhas e, mais uns metros, chego na Pousada Potreirinhos de São José dos Ausentes.

A beleza fria da geada

Pousada Potreirinhos na manhã fria

Aqui na Pousada Potreirinhos, em São José dos Ausentes, tem alguns dias do ano que o visitante pode ser brindado com um espetáculo ímpar, que reúne beleza e frio. Bom para aqueles que se dispõem a levantar cedo, pouco antes do sol dar as caras, colocar todas as roupas que trouxe e sair para o campo apreciar o branco intenso de uma geada que esfria até os ossos do vivente. Mas vale cada segundo passado por ali até que o sol, com seu calor crescente, vá derretendo tudo e fazendo as cores do campo retornarem ao seu padrão dourado de final de outono, início de inverno.

Mateando nas alturas

Topo do Morro dos Gaiteiros com a neblina cobrindo o vale abaixo. No fundo, o Morro Maracajá.

Levantar-se antes do sol, preparar um mate, calçar botas, colocar roupas grossas para segurar o frio, recolher o equipamento fotográfico e subir o Morro dos Gaiteiros para assistir o deslumbrante nascer de um dia no Vale do Rio Silveira, aqui na Pousada Cachoierão dos Rodrigues, é um programa imperdível. Melhor ainda quando amanhece o dia com o vale coberto de neblina densa, escondendo tudo de todos. Subir o morro é o segundo desafio, já que o primeiro foi sair da cama quente e enfrentar o frio da madrugada. A carga de orvalho nas hastes da vegetação do campo molha o que alcançam, mas a cada passo a expectativa vai aumentando e o fôlego diminuindo, antevendo-se que o esforço pode valer a pena. Chegando perto do topo do morro, vejo que a neblina densa vai ficando abaixo de mim, como se eu emergisse de uma nuvem que tudo branqueia, esfria e molha. De cima já é possível ver o horizonte de leste, ainda meio fechado, mas prometendo horas de sol e calor na sequência do dia.

Nasce um novo dia no vale

Vale do Rio Silveira ao amanhecer com neblina 

Há muitas formas e cores que podem compor o quadro do surgimento de um novo dia. Existem aqueles que começam envolvidos em nuvens baixas, cinzas e agressivas que escondem o sol, mas não a sua luz, tornando tudo meio fantasmagórico em tons de cinza e cheirando a chuva; outros que nascem mosqueados com alguns buracos no paredão de nuvens do nascente e que permitem que o sol espie um pouco a geografia e derrame sua luz dourada sobre a paisagem igual a um grande holofote; tem também aqueles que são dias que precedem noites limpas e frias e que permitem ver o sol em sua plenitude, surgindo primeiro um clarão no leste e que, a cada minuto, mais e mais luz vai surgindo até aparecer a calota dourada - a cabeça do sol, que segue subindo, clareando e esquentando tudo em volta; e tem aqueles diferentes, que se aprecia de um ponto que permite ver um rio encaixado em um vale coberto de campos e matas cortado apenas pelos sons do gargarejo da água se debatendo nos degraus rochosos do seu caminho.

Pousada Cachoeirão dos Rodrigues

 

Pousada Cachoeirão dos Rodrigues

Uma pousada é um lugar para se pousar, descansar e sair da rotina diária de casa e seus envolvimentos. Quando penso em um destes lugares, lembro sempre de água corrente de algum rio ou arroio, cheiro de galpão, noites escuras com céu muito estrelado, frio aconchegante, berros de terneiros chamando suas mães e de vacas chamando seus filhos, cheiro de café passado e do pinhão assado na chapa do fogão, de leite quente num bule sobre uma mesa repleta de pães, bolos, queijos e biscoitos da casa para um café da manhã e, o mais importante: o acolhimento simpático e caloroso dos donos e sua família.

Habitantes das pedras

 Pedra do leito do Rio Silveira coberta de diversas espécies de líquens

O rio Silveira corre por um leito negro de pedra basalto originada de gigantescos derrames vulcânicos que remontam há mais de 100 milhões de anos. Por todo o vale se observa uma quantidade variada de rochas expostas pelo campo, ora aflorando como sentinelas, ora empilhadas formando longas e antigas taipas para separarem os campos de uns e de outros. Estas pedras do campo são pontas que emergem do grande esqueleto rochoso que forma o Planalto Sul brasileiro, que aqui na região de São José dos Ausentes pode ter mais de mil metros de espessura. Uma pedra exposta fica à mercê das intempéries, que aqui são muito severas e podem ir de geadas com temperaturas muito abaixo de zero ou calor escaldante nos dias limpos de verão que podem bem passar dos 30 graus. Estas variações térmicas extremas, associada com a ação da água que, ao congelar e dilatar, vai quebrando a rocha em pedaços menores que acabam se incorporando ao solo. Parece que nada pode viver sobre elas. Só parece.

O Cachoeirão dos Rodrigues

Cachoeirão dos Rodrigues visto do campo, pela margem esquerda

Um dos mais espetaculares visuais do Cachoeirão dos Rodrigues é a vista que se consegue ter a partir margem esquerda do Rio Silveira o que permite, inclusive, o acesso a sua base. Chegar no poço da cachoeira não é uma tarefa muito simples e rápida, apesar de ser altamente estimulante, uma vez que é necessário atravessar a pé o rio para poder caminhar pelo campo até o local de descida. O desafio é cruzar os rasos do rio andando pelos lajeados e pedras maiores, evitando os locais mais fundos seguindo um trajeto imaginário feito há muito pelos moradores locais. Não há marcação nem balizas e quem se aventura sozinho pode ter o dissabor de cair em um buraco. Mas tudo é festa e aventura quando o rio está baixo, fato comum no verão e outono. Mas após as chuvas fortes de inverno e mesmo de primavera, ninguém consegue cruzar por ali, restando então a opção de visualizar a queda pela margem direita, acesso que igualmente se faz a partir da Pousada Cachoeirão dos Rodrigues.

logo retangular

Atenção:
É proibida a reprodução, total ou parcial, dos conteúdos e/ou fotos, sem prévia autorização do autor.