Blog Andando por Aí
O tempo, o vento e Canela-RS
Praça central da cidade enfeitada para as festas do Sonho de Natal
Depois de mais de 40 anos, resolvi reler o clássico O tempo e o Vento, do imortal Érico Veríssimo. Li os sete volumes da trilogia famosa quando morava em Porto Alegre, na década de 70, e confesso que nesta releitura percebi muitos detalhes e primores da escrita narrativa e empolgante da saga dos Terra- Cambará me mostraram um mapa mais preciso da evolução social e política do nosso Rio Grande e do Brasil. Do embrião da cidade fictícia de Santa Fé até o final da saga, deu para rever e entender melhor a evolução dos processos de colonização e ocupação dos espaços geográficos do nosso Estado.
Automaticamente me transporto para a minha Canela, cidade que me pariu e me viu crescer e traço paralelos com muitos dos pontos encontrados naquela cidade de Érico Veríssimo. Muitas lembranças desta minha cidade dos anos 50 e 60 me afloram quando passeio pelas páginas dos livros, e vejo que muitas coisas são semelhantes nos embriões e no desenvolvimento das cidades. Lembro de ler dos pioneiros que por aqui chegaram, seja como tropeiros ou como estancieiros, e que iniciaram o núcleo urbano que não parou mais de se expandir até hoje, com suas virtudes e seus problemas inerentes.
Novos tempos, novos projetos que buscam resgatar a história da cidade
Foleando as belas páginas do livro Canela ontem e hoje, com suas fotos comparativas do passado e do presente, viajo no tempo e vejo o como era e o como está, e jogo tudo imediatamente para o como estará a minha cidade num futuro próximo. Algumas coisas me encantam, algumas mudanças e evoluções urbanas são muito positivas, outras nem tanto e algumas criam uma sombra de verdadeira preocupação com o amanhã. Lembro dos tempos dos poucos, pouquíssimos carros que circulavam pelas nossas ruas e vejo hoje o que todos veem e sentem. As ruas, estas são as mesmas, mas o número de automóveis cresceu mais do que se poderia imaginar. Casas antigas do centro da cidade, tradicionais e com seus terrenos que outrora tinham espaço para horta, poço, garagem, galinheiro e ainda sobrava para algum pinheiro ou guabirobeira, são substituídas por suntuosos e apertados prédios que, com suas formas e cores, mudam o cenário para um novo século, um novo tempo, uma nova realidade. Mas as ruas ainda são as mesmas.
Trabalhos de Educação Ambiental nos parques da cidade
Nossos arroio e nascentes, por emporcalhados que foram, são canalizados e escondidos, circulando anonimamente por debaixo das ruas e prédio carregando nossos dejetos para longe de olhos e narizes. Continuamos a beber, tomar banho, lavar carros e calçadas com a preciosa água do Rio Santa Cruz que depois é devolvida, via Arroio Caracol, ao mesmo manancial alguns quilômetros abaixo, agora com o nome de Rio Caí. E o rio Santa Cruz continua o mesmo.
Com meus 67 anos recém feitos, vejo a evolução desta bela cidade com olhos desconfiados de quem sabe que o brete é estreito e a manada grande e que só aumenta. Com o perdão da comparação, vejo assim a situação. Como em Santa Fé do Veríssimo, Canela mudou, cresceu, recebeu e perdeu linha férrea, estradas, gente de muitos lugares, de muitas etnias e com isso também vieram novas ideias, investimentos e também os problemas inerentes. Enfeita-se para o natal e Páscoa como poucas cidades e sabe bem receber os visitantes. Não vejo como segurar o crescimento, assim como o Dr. Rodrigo Cambará assistiu as mudanças inevitáveis de Santa Fé. O modelador de tudo é o tempo e o vento, como bem sabia Érico Veríssimo.