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Dia de cerração

 

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É frequente, aqui em Canela na Serra Gaúcha, o fenômeno da cerração que branqueia e molha tudo, diminuindo a visibilidade, aborrecendo os locais e encantando os de fora. Ela é formada pelo choque da massa de ar quente e úmido vindo de locais baixos dos Vales do Paranhãna e do Quilombo, que sobem pelos paredões do Laje de Pedra e condensam a água devido a diferença de temperatura do ar mais frio encontrado aqui na serra. O resultado é este manto branco encantador ou sinistro, dependendo de quem o observa.

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Neste início de maio o fenômeno ocorreu por diversos dias, fazendo com que a cidade pareça meio fantasmagórica, abandonada, mas com um charme e um encanto típicos desta sutileza climática das cidades serranas. Andei pelas ruas em busca de algum ângulo interessante para ilustrar esta crônica e encontrei vários, alguns bem interessantes. Os plátanos, que agora amarelam e abandonam suas folhas, parecem gostar muito da neblina, que enxarca as folhas aumentando seu peso, o que facilita sua queda livrando mais rapidamente os galhos para que fiquem despidos a espera do frio do inverno. A catedral parece que vai dissolvendo sua torre no ar, à medida que o olhar busca a cruz do topo. As árvores da praça parecem fantasmas negros e aborrecidos com a falta da luz.

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O comércio esvazia e os poucos turistas arriscam uma pose na frente da catedral, ou escondem-se nos cafés e restaurantes da Estação Campos de Canela, desfrutando de um chocolate quente ou um bom vinho tinto. Parece triste a minha cidade, mas consigo ver muita alegria nela na forma de um quadro pintado em preto e branco, com poucos detalhes e muita vibração comandada pelo branco que em tudo se intromete. Vejo o arranjo feito pelo vento no acúmulo de folhas de plátanos nos canteiros e ruas que compõem um verdadeiro quadro de aquarela retratando um momento único, uma vez que amanhã, cessada a cerração e a chuva, serão varridas, recolhidas e enviadas para o depósito onde serão recicladas por compostagem. A umidade trazida dos Vales do Paranhãna e do Quilombo hidrata a cidade e alivia um pouco o calor e a poeira dos dias anteriores.

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A noite o fenômeno me parece ainda mais pitoresco e interessante, criando cenários únicos com as sombras produzidas pelas luminárias das ruas e dos faróis dos veículos. Basta que se tire uns poucos minutos para apreciar o surgimento deste mágico pincel da natureza que consegue imprimir um quadro onde o branco, que é a junção de todas as cores do espectro solar, mostra sua força na composição da paisagem. Um dia de cerração é um dia de composição em preto e branco da natureza. É bom, para variar.

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