Blog Andando por Aí
Na costa do rio Muniz
Em um dia agradável de sol forte e luz boa, com o calor sendo temperado, de tempos em tempos, pela passagem de algumas nuvens, fui caminhar no campo para ver e sentir o local. O terreno descia em direção a um pequeno vale, onde já avistava as águas transparentes do rio Muniz, calmo e com o negro leito exposto devido a estiagem. Quaresmeiras-do-campo, pequenas como as carquejas, mostravam a estação do ano através de suas flores, havendo grande movimentação de abelhas por todos os lados. Um capão de mato, quase redondo, parecia uma ilha num oceano de gramas, trevos e outras tantas ervas. É um abrigo natural para o gado contra sol e chuva, deixando o chão sem grama, dizem pelo grande movimento de cascos por ali.
Em uma área de grandes rochas expostas, encontrei um mirante natural. Pela altura e visibilidade, vi a perfeita ferradura desenhada no vale, criando um cenário espetacular. Ao Norte, as nascentes, matas de araucárias e campos dobrados; a oeste, segue seu curso natural até encontrar o rio Caí, alguns quilômetros abaixo. O Muniz é um daqueles cursos d’água típicos de planalto, percorrendo, ligeiro, áreas de campos dobrados, matas de pinus ou de araucárias e culturas diversas, como batata e soja.
Logo adiante, vi a majestosa e ameaçada criúva, uma árvore de campo com seu tronco retorcido e imponente, porte mediano e folhas finas. É uma autêntica guardiã do campo, solitária e singular, evitando o aglomero da mata próxima. É uma dissidente. Deve ter pensado nos habitantes do campo e na necessidade de algum abrigo e, assim, passou a viver solitária.
Andei até encontrar o leito escuro, raso e refrescante, com pequenas corredeiras e um espelho de águas tranquilas parecendo dormir um bom sono, naquele quente verão. Caminhei sobre uma vegetação aquática, mais parecida com um carpete natural, agradável e sem o perigo de escorregar sobre um limo traiçoeiro. O prazer da ausência de sons urbanos e o convívio com a sinfonia das pequenas cascatas; martim-pescador gritando; o farfalhar de assas de um gibão-de-couro caçando insetos no ar; o alívio do calor trazido pela sombra da passagem de alguma nuvem; o som distante de uma perdiz oculta no denso gramado; a curiosidade do gado vindo conferir o intruso; o frescor dos pés sendo massageados pela corrente e o avistamento de uma cobra-d’água pelos degraus de rochas em busca de algum lambari, completaram o quadro natural. Assim passei algumas horas no convívio com amigos queridos desfrutando dos preciosos elementos naturais encontrados em algum lugar do vale do rio Muniz, em São Francisco de Paula.