Blog Andando por Aí

Rita e Sombra, meus vizinhos.

Rita, com seu perfíl inconfundível de sapo-cururu

A Rita é um sapo-cururu que mora num compartimento secreto da área da casa, aonde ela passa o dia dormindo escondida da gata e dos cães que vagam pela rua e gostam de atucanar a coitada. No jardim aqui de casa tem um gramado que é o supermercado da Rita. Quando anoitece, ela se esgueira por uma fresta e sai do seu esconderijo e começa sua caçada pelo gramado, comendo literalmente tudo que se movimenta com asas ou patas e que caiba em sua grande boca. Come, pula, para, olha, escuta, pula, come, para e assim segue o baile. Ela anda de forma aparentemente errática, mas sempre sendo atraída por movimentos no gramado que possam indicar a presença de algum inseto ou aranha. Anda, volta, vai novamente, mas nunca muito longe do seu precioso esconderijo.

Impressionante a quantidade de pequenos animais que ela consegue capturar com sua pegajosa e extensível língua, que atua como ferramenta preciosa e certeira para trazer a boca os petiscos que andam pelo gramado, que só ele parece enxergar. Hora após hora, a Rita trilha pelo gramado, pelas calçadas e pela horta em busca do sustento e isso a torna uma grande aliada no controle de insetos e aranhas, mantendo tudo mais ou menos sob um controle populacional regulado pela oferta e procura. Mais sapos, mais alimento: menos alimento, menos sapos. Assim a natureza vai regulando as coisas e evitando a explosão populacional de uns e de outros.

Rita com sua enorme boca e olhos adaptados a visão noturna. Nada escapa.

Festa grande é quando, nestes dias quentes do verão quando se aproxima uma chuva, os cupins alados emergem do solo em seus voos nupciais aos milhares e a Rita se farta com o maná oferecido e certamente retorna para seu abrigo antes do “horário”, em função da grande e inesperada disponibilidade de comida a que teve acesso.  Algumas vezes vejo que a Rita tem concorrente no pátio onde domina soberana. É o Sombra, outro sapo-cururu que aparece vindo do lado da horta, um lugar sombrio a noite devido as árvores que atacam a luz do poste, onde deve ter seu esconderijo. Os dois não brigam, mas disputam freneticamente cada palmo do gramado atrás de comida fresca. O Sombra passa pela Rita e finge ignorar sua presença, talvez olhem um para o outro e digam: “vai prá lá, que prá cá é comigo”, ou apenas rosnem um para o outro, ou se prometem um “namoro” quando chegar a época de cria, ou nada disso. Nunca vou saber.

Por esta habilidade na captura de insetos e pelo seu apetite descomunal, vários casais do nosso sapo-cururu (Rhinella icterica) foram levados para a Austrália em 1935 para controlarem uns insetos que assolavam lavouras de cana de açúcar. Como por lá não havia predadores para ele, encontraram o lugar perfeito para se desenvolver: muito espaço, muita comida e sem ninguém para molestá-los. O resultado óbvio veio algumas décadas depois, quando o nosso querido sapo-cururu atingiu o estágio de praga, tornando-se um problema ambiental maior do que aqueles insetos que assolavam as lavouras e que os fizeram atravessar o mundo. Aqui no Brasil o sapo-cururu é nativo, adaptado a diversos ambientes e vive em equilíbrio, porque ele tem quem controle suas populações, como várias serpentes, aves e mamíferos, impedindo que ele vire uma praga.

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