Blog Andando por Aí
Sou uma bromélia
Vivo apoiada em um galho de pinheiro porque eu nasci aqui. Sei que o pinheiro não se importa que eu me prenda em sua casca, já que nada lhe causo e ainda o embelezo. O pinheiro não tem flores como eu, com pétalas coloridas que atraem insetos e beija-flores, então eu ajudo a embelezar seu tronco e galhos. Quem me trouxe aqui foi o vento. Vim como uma minúscula semente arrastada de minha mãe que, infelizmente, não conheço, mas deve ser alguma destas outras bromélias que aqui estão no mesmo pinheiro e são mais velhas. Cheguei e me prendi numa dobra da casca, bem apropriada para eu nascer. Ali me fixei com pequenas raízes como ancoras, e fui crescendo e desenvolvendo minhas folhas, que são duras e finas em forma de fitas.
Nos primeiros tempos, só cresci e reconheci o meu local e o seu entorno, esta floresta de araucárias que é muito alta e arejada, o que é ideal para mim que preciso de luz e o ar circulando para me trazer a preciosa água. Sim, como eu moro presa num galho e não sou parasita, preciso retirar do ar e da chuva a minha água. Quando chove, recolho entre as minhas folhas em forma de funil, água suficiente para um longo período. Com sol, água e gás carbônico do ar, tenho tudo que necessito para fazer a minha comida através de um complexo mecanismo bioquímico chamado fotossíntese. Como tempero, ainda capto sais minerais e outros elementos que o vento me traz através da poeira vinda de algum terreno ou estrada.
Na minha primeira primavera fiquei encantada quando produzi a minha primeira flor. Com aquelas belas cores azul e vermelha, logo atraiu a atenção dos beija-flores que vieram beber de meu néctar, numa fonte escondida no fundo do meu buquê. Entreguei o néctar, mas combinei que deveriam levar meu pólen para as outras flores. E assim foi. De tantas visitas, acabei também recebendo o pólen de outras bromélias irmãs, de perto e de longe, que fecundaram meus óvulos e, depois de um tempo, a bela e colorida flor murchou e caiu, já que não tinha mais função, e vi crescer meu ovário que abrigava inúmeras sementes em desenvolvimento. Só eu podia sentir, mesmo sem ver, que eu estava gerando ali uma nova família formada pelas novas semente.
Mais um tempo se passou e estas sementes, agora já maduras e prontas, estão ainda envoltas e protegidas pelo fruto que as abriga. Este fruto é seco e não atrai nenhum comensal para dele se alimentar. Então, quando maduro, ele se abre e deixa as preciosas sementes saírem e serem levadas pelo vento para novos lugares. Vi, então, como foi que eu aqui cheguei e agora sei que dependemos do vento e dos beija-flores para chegarmos a outras árvores e mesmo paredões de rochas para ali nos fixarmos. Vida de bromélia é assim, e quando caímos, arrancadas pelos ventos fortes ou quebra de galhos, morremos no chão pela dificuldade de conseguir boa luz, água e um vento amigo que leve e traga novas sementes e nutrientes.