Blog Andando por Aí
Viajando no tempo
Campos de Altitude e cânion da Coxilha, S. J. dos Ausentes - RS
A história do passado do homem sobre o nosso planeta é relativamente bem conhecida, rastreada que foi e continua sendo, por arqueólogos que encontram indícios de nosso comportamento, evolução tecnológica e expansão sobre territórios novos e inexplorados. Artefatos de pedra lascada ou polida, cerâmicas, metais e restos de esqueletos nos contam de uma trajetória conhecida de cerca de 10 a 12 mil anos atrás quando alguns grupos humanos de nômades caçadores/coletores, começaram a domesticar algumas plantas e animais e adotaram progressivamente o modo de vida sedentário, criando-se assim os embriões das primeiras vilas e posteriormente cidades.
A chave para esta mudança de modo de vida foi a capacidade de produzir uma quantidade de alimentos que fosse superior ao consumo diário. Assim nasceu a agricultura, que exigiu do homem a habilidade para selecionar plantas com sementes grandes e nutritivas que pudessem ser plantadas, colhidas e armazenadas para consumo futuro, como o foram inicialmente o trigo, cevada e o arroz.
Também os animais mais dóceis e com características importantes que pudessem ser exploradas pelo homem, foram lentamente domesticados, como o gado bovino, os cavalos, cães, porcos, ovelhas e galinhas. Isto foi garantindo proteína animal, gordura, transporte e fibras para as populações que, com estes recursos adicionais, aumentaram rapidamente em número criando cidades e, posteriormente, impérios. Mas um dos preços desta aproximação maior com os animais foi a nossa contaminação com alguns de seus vírus e bactérias que nos trouxeram doenças que até hoje molestam a humanidade, como a gripe, o sarampo e tantas outras. A formação de núcleos urbanos com milhares de pessoas em pequenos espaços, contribuiu para a disseminação de epidemias devastadoras que surgiam de tempos em tempos.
O excedente de alimentos criou a possibilidade de alimentar um grupo de pessoas que não trabalhavam diretamente no campo, mas nas vilas e cidades. Assim se criaram os especialistas, homens e mulheres que se dedicavam a confecção de armas, cerâmicas, vestuários, administração pública, etc... Surgiu assim a metalurgia, a carpintaria e todas as outras especialidades de artífices que ajudaram a sustentar as cidades, as necessidades de bem viver e de se defender de invasões ou permitir conquista de novos territórios pela força de novas armas.
Pulando no tempo, hoje temos bem claro isso quando olhamos uma cidade e uma zona de produção no campo, ou na colônia. O modelo é o mesmo, mantendo as proporções que as novas tecnologias trouxeram para ampliar de forma considerável a produção de alimentos, fazendo com que a maioria da população humana seja de especialistas, e não de produtores. Os espaços mais propícios a agricultura forma amplamente dominados e outros utilizados para expansão urbana e de estradas, pouco sobrando daqueles lugares ainda selvagens e que remontam ao início de nossa história de caçadores/coletores.
Fascino-me com estes poucos, raros e inóspitos lugares primitivos como uma necessidade de ver e sentir como era o nosso ambiente antes da revolução agrícola. Não me perguntem o porquê, apenas sinto que necessito ver e sentir estes ambientes. Esta é a mola que me impulsiona para ir, ver, fotografar e escrever como se eu me visse como um viajante no tempo que observasse a paisagem à frente sem que nela ainda sequer tivéssemos pisado, morado, arado ou criado qualquer animal para consumo ou tração. É um exercício que faço com muito prazer e que me permite entender cada vez mais a ocupação humana no planeta. Necessitamos, assim como no início de tudo, de muita comida vegetal e animal e, para isso, aperfeiçoamos cada vez mais a pecuária e a agricultura para alimentar um número cada vez maior de especialistas que vivem nas megacidades que criamos. Qual será o limite? Quem viver, saberá.