Blog Andando por Aí
A hora dos papagaios.
Papagaio-peito-roxo comendo sementes de cedro
Neste início de outono, aqui em Canela – RS, é possível ouvir durante o dia uma intensa atividade de pequenos bandos de papagaios, que fazem alaridos emitindo sons de cráum, áum, cráum, áum naqueles bairros que ainda tem algumas reservas de florestas decorrentes da conscientização de alguns moradores e de leis de proteção. São os papagaios-do-peito-roxo (Amazona vinacea), uma espécie residente o ano todo por aqui e que neste início do outono estão atentos ao amadurecimento de seu principal alimento: o pinhão, esta preciosa semente das araucárias.
Pinhas maduras
Eles conhecem os pinheiros fêmeas e rondam para inspecionar o estágio de amadurecimento dos pinhões, assim como nós. Todos ansiosos pela hora da pinha informar que está pronta e ofertar este maná da serra para saciar a fome e sentir o gosto do outono. Beliscam as pinhas e escolhem, entre as falhas, as douradas e cônicas sementes e ali mesmo, nos galhos espinhentos e rugosos, iniciam o difícil processo de abrir a semente. Rasgam com seu forte bico a proteção da casca e comem o cremoso conteúdo branco e adocicado numa festa que pode levar horas. Neste processo de retirar os pinhões, a pinha acaba debulhando e deixando cair pinhões ao solo, fazendo ali a festa das cutias e outros animais que não conseguem subir ao pinheiro.
Pinhões abertos e comidos por papagaios
Os papagaios necessitam das matas tanto pela necessidade de nelas encontrarem o alimento, ofertado o ano todo com brotos, sementes e frutos de inúmeras espécies, como também para encontrarem local seguro para a construção de seus ninhos que são feitos em cavidades de árvores. Ali nestes ocos, que surgiram de algum galho quebrado ou outro trauma que a árvore sofreu, os papagaios se abrigam e fazem seus ninhos. Daí a grande importância de existir nas matas estas árvores velhas ou mesmo mortas, que a nós muitas vezes parecem inúteis e perigosas por poderem se quebrar, que servem de morada para eles.
Pinha madura no pé parecendo um farol aceso sinalizando aos animiais que as sementes estão no ponto
Onde tem papagaio-do-peito-roxo, tem araucária e isto me diz que eles são indicadores biológicos da qualidade do ambiente onde vivemos. Saúdo com muita alegria estes barulhentos bandos que rondam a Santa Terezinha, Quinta da Serra, Vista do Centro, Reserva da Serra, Vila do Cedro e tantos outros bairros daqui que tem estas reservas ancestrais de matas que ainda abrigam e mantem estes papagaios e tantas outras espécies nativas que há séculos habitam este ecossistema. Devemos, por uma questão de atitude, respeitar o Defeso do pinhão, que é o período em que a semente ainda não está plenamente madura para poder ser colhida. A lei atual aponta para 15 de abril o dia do ano que inicia oficialmente a colheita e comercialização do pinhão. O papagaio-do-peito-roxo, alheio as nossas leis, fica vigiando as pinhas de perto para saber a hora. Cada um a seu modo.