Blog Andando por Aí

Os urubus

urubu cabeça vermelha 2Urubu-de-cabeça-vermelha

Um cânion, por definição, é um vale mais ou menos profundo com um curso d’água percorrendo o seu interior. Este rio que por ali corre é um dos principais responsáveis pela escavação da garganta ao longo dos milênios, aproveitando-se a água de alguma falha do terreno e de rochas mais frágeis, desgastando-as e abrindo caminho com a calma e persistência da água.  Olhando com atenção o cânion Fortaleza, percebo o trabalho permanente e incansável da água e das quedas de barrancos provocadas pelos trovões durante os fortes temporais. Estes desmoronamentos vão alargando o cânion e o material acumulado é levado adiante pela água, rolando e quebrando as rochas e produzindo seixos e areia que se depositam na planície em Santa Catarina. É a dinâmica da natureza.

Afora este detalhe técnico, olhar a paisagem da borda de um cânion gera uma sensação de águia, aquela que me permite, mesmo sem ter asas, voar por todo o cenário sem esforço, só na contemplação. Posso ficar muito tempo assim como um drone, imaginado manobras, rasantes e panorâmicas permitidas apenas para aqueles que podem voar ou delirar diante da paisagem

 

urubu de cabeça preta1 2Urubu-de-cabeça-preta

Na cordilheira dos Andes, local de centenas de cânions, vive uma espécie de urubu conhecido como Condor, uma ave gigante que vaga pelas colunas de ar quente geradas entre as montanhas frias.  Olhar um condor voando é outro exercício de liberdade que pode me levar muito alto, muito além do fisicamente possível. Atravesso montanhas, ascendo e desço com velocidade e precisão e vejo o mundo com outra perspectiva.

Aqui em Canela e em toda a região, existe o urubu-de-cabeça-preta, uma espécie comum e que pinta de preto o céu azul com seu voo planado e o urubu-de-cabeça-vermelha. Eles, assim como os condores, utilizam-se das correntes quentes para subirem com pouco esforço a dezenas e centenas de metros de altura, olhando tudo de cima, sem esforço. Fico imaginando o visual que um urubu tem ao planar pelas bordas do Lage de Pedra, ou do Morro Pelado. Em segundos, atinge locais inimagináveis e de cima procura por carcaças em estradas, campos ou mesmo no interior de florestas. Eles fazem seus ninhos em frestas de gretas de penhascos inacessíveis, criando com relativa segurança seus poucos filhotes de cada ninhada. Urubus e cânions combinam, parecem que se relacionam muito bem e as bordas afiadas dos peraus parecem os poleiros ideias para estas aves extraordinárias que amam o aberto, a altura e as carniças.

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