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Aventura no Topo do Rio Grande (segunda parte)

No Topo do Rio Grande

Subir ao ponto mais alto do Rio Grande é emocionante e desafiador. O Monte Negro é rodeado de mistérios, trilhas estreitas e pouco marcadas, uma vegetação baixa, cheia de musgos com sons de aves e do vento. Chegar ao topo exige um certo esforço e dedicação, mas o visual lá de cima compensa qualquer escorregão, tropeço, espinho ou outro percalço imposto pela subida. É uma vista espetacular que se tem para o norte e leste, tendo aos nossos pés o imponente, profundo e escuro cânion homônimo. Vale cada gota de suor.

 

A tapera e a Borda

Quando vi esta tapera pela primeira vez, há anos atrás, imaginei a possibilidade de reergue-la e torna-la habitável mais uma vez e ali viver por um tempo no isolamento do campo para escrever sobre como é a vida solitária em ambientes remotos. Não foi possível a reforma da velha casa, mas no meio do caminho, surgiu um contâiner que me permitiu realizar o sonho da vida solitária. Assim nasceu o projeto A Borda, que desenvolvi no outono deste ano durante 45 dias. Levei o grupo para conhecer o berço da ideia de viver só, e depois fomos conhecer o contâiner, onde vivi por um período suficiente para acalmar temporariamente meu espírito de aventureiro.

 

Galpão raiz

O Rincão Comprido tem um daqueles galpões de fazenda serrana que não se encontra em qualquer lugar. Amplo, arejado, com luz difusa, cheiro e textura campestre, abriga baias para o gado e cavalos e ainda tem o canto impecável reservado a queijaria da dona Maria Lopes. O chão batido conta as histórias que por ali se passam, os cascos que roem cada centímetro, a vassoura que varre a poeira que insiste em entrar com o vento e se acomodar no chão e nos caibros do teto. Irregular, limpo e com o destino de abrigar a lida diária, este galpão é utilizado pela família Lopes para a ordenhas das vacas que permite a fabricação do premiado queijo serrano da propriedade.

 

Tapete de musgos

Uma turfeira é sempre um lugar especial, ou pela água que verte em nascentes sempre abundante e perene, ou pela beleza que empresta a paisagem com seu colorido e diversidade de plantas e liquens. Visitamos uma destas turfeiras durante nossa aventura aqui no Topo do Rio Grande, onde há algumas destas já raras formações com grande concentração vida. Os musgos que formam as turfeiras são interessantes, entre outros fatores, pela grande capacidade de armazenarem água, característica conhecida como higroscopia. Assim, além da água das chuvas, a turfeira se encharca e armazena a água das nascentes, aproveitando-a para si e liberando pouco a pouco o excesso para os mananciais a jusante. São verdadeiras esponjas vegetais que regulam a distribuição da água destes banhados.

 

Tomando o camargo

Levantar cedo e seguir para o galpão da ordenha da Pousada Monte Negro, carregando uma bandeja de xicaras com café preto recém passado, era nossa rotina todas as manhãs durante a nossa estada na pousada. Dali seguíamos para onde as vacas estavam sendo ordenhadas e preparávamos o famoso camargo, ou seja, café preto com leite retirado direto dos tetos com aquela espuma e cremosidade inigualáveis. Um sabor campeiro autêntico, com som e cheiro de café, leite quente e galpão.

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