Blog Andando por Aí
Galpão
O galpão de estância, fazenda ou chácara é um daqueles lugares fundamentais para o funcionamento do empreendimento rural. Neste amplo espaço coberto, abrigam-se os cavalos, ordenham-se as vacas, carneiam-se os animais para consumo na propriedade, armazenam-se os grãos e rações, além de alfafa, lenha seca, maquinários, arreios, carvão, combustível e mais uma longa lista de coisas necessárias.
A construção é rústica, forte e operacional. Entra-se a cavalo pela grande porta, facilitando a vida dos campeiros quando chegam das lidas de campo. Serve também de garagem para os carros e alguns implementos. As janelas ficam, quase sempre, abertas o ano todo, arejando e iluminando o interior. O chão é de terra batida por cascos, botas e rodas, eivado de buracos e desníveis, lembrando uma trilha de campo. Tudo harmônico com o propósito do local. Para manter a limpeza, uma gorda vassoura de folhas e galhos de uma planta nativa, chamada vassoura-branca, muito abundante e também utilizada como lenha. Nada escapa de seus intrincados ramos, amarrados num cabo de cambuim, passados com destreza pelo solo poeirento, removendo tudo que não pode aí permanecer.
Nas paredes nenhum espaço é desperdiçado. Arreios, cordas, pelegos, capas e calendários anuais e de festas, tudo à mão para a lida, seja a do campo com o gado, seja para facilitar a saída de um grupo para passeio a cavalo pelo campo. As coisas são ajustadas para as lidas e não, necessariamente, para ficar bonito.
Nas tesouras e caibros do telhado, reinam os gatos com seus esconderijos inacessíveis. São os grandes usuários da parte de cima, onde só eles, as aranhas e os insetos têm acesso. Ágeis, sobem e descem pelas paredes e caibros e põem qualquer rato em pânico, não permitindo sua presença. Estes felinos servem para evitar o saque dos roedores aos depósitos de grãos e rações, tão apetitosos e destinados aos cavalos e vacas leiteiras. Reproduzem-se e criam os filhotes sem que ninguém consiga pegá-los. Num acordo tácito, ganham a segurança do abrigo e, em troca, afastam os ratos. É a sua forma felina de agradecer.
Quando fechada, a porta grande tenta impedir a entrada da luz, mas esta se imiscui pelas frestas e espia o interior como se, ali, tivesse algo que lhe interessasse. Réstias claras deixam iluminados pequenos trechos do chão, como minúsculas lanternas em mãos de algum curioso à procura de algo. Assim é um galpão de estância, com seus cheiros, luzes, objetos, bichos, texturas e funcionalidades não encontrados em nenhum outro lugar.