Blog Andando por Aí
Eu sou o vento
Sou invisível mas todos os seres que habitam este planeta sabem da minha existência, seja por uma brisa refrescante numa beira de praia ou rio, seja pelo visual que exibo das nuvens sendo por mim arrastadas e deformadas, assumindo mil formas, seja por uma janela que faço bater contra a parede da casa, seja pelas folhas mortas que arranco das árvores e jogo nas calçadas e terrenos, seja pela violência de quando me transformo em furacão e arraso tudo ou quando acelero a chuva que era calma e a transformo em tempestade. Sempre estou em algum lugar deste planeta. Assopro as águas quentes dos oceanos tropicais, ou as águas geladas dos polos criando ondas de todos os tamanhos que desafiam os mais hábeis navegadores ou alucinam os intrépidos surfistas.
Eu sou simplesmente o ar em movimento. Quando sou aquecido fico mais leve e me expando, corro para cima empurrando o ar mais frio para baixo. Isto cria as correntes que são bem conhecidas e aproveitadas pelos homens. Primeiro com seus navios a vela que eu empurrava ou, quando estava com preguiça, os deixava nas calmarias de um oceano sem fim. Como eu nunca paro, hora estou lá na Antártida esfriando e correndo pelos sem-fim de gelo do continente, ora me dirijo para o equador trazendo um pouco de alívio nas temperaturas do norte, o que são chamadas de frentes frias. Quando esquento muito no equador, devido ao sol escaldante e a alta temperatura que o solo atinge, subo e me desloco para o sul e esquento tudo e todos. O ar frio não gosta do ar quente, e vice-versa. Quando nos encontramos, sempre tem problemas. O choque das nossas duas massas gera descargas elétricas, raios, trovões e chuvas, assustando a todos.
Também sou muito camarada quando quero, e me transformo em um vento amigo que refresca a beira mar ou no calor das cidades, quando entro pelas janelas e porta para arrancar de lá o calor guardado. Aí sou o vento refrescante, amigo e desejado. Também as plantas me desejam assim, calmo, mas constante, pois elas me utilizam para transportar sementes, limpar folhas mortas, levar pólen para lá e para cá.
Quando resolvo ser destrutivo, não há o que me ataque. Derrubo, desloco e faço voar o que estiver pela frente, criando grandes confusões e desgraças. Consigo, sem muito esforço, arrancar areia do deserto do Saara, na África, e jogá-la sobre a floresta amazônica, na América do Sul. Transporto aranhas e insetos de um lado para outro da Cordilheira dos Andes. Posso me travestir de micro explosão, furacão ou tornado e faço grandes estragos por onde passo. Sou poderoso, antigo como este planeta, vi tudo surgir e se transformar por aqui. Ajudei a formar a geografia, transportando terra de um lugar a outro e os seres que aqui habitam aprenderam a me utilizar para seu benefício. Mas até hoje tem uma coisa que não consigo atingir com a minha força: é a luz. Esta energia é transparente a mim, como eu sou a ela, não sofre nenhuma deformação pela minha passagem. Destruo ou construo coisas na paisagem e lá está ela, igual sempre me olhando e pensando: tu pensas que é grande. A luz é o meu desafio, ainda não aprendi como balançar e atormentar suas cores. Mas ainda não desisti.