Blog Andando por Aí
A eterna luta das forças opostas
Cordilheira do Andes em El Chalten, Argentina
Se você fica surpreso ao saber que uma luta pode durar um, dez ou cinquenta anos, como as guerras entre nações, disputas diplomáticas por divisas de territórios ou uma diferença entre o valor de uma herança, isso não é nada se comparado ao embate que se trava no planeta desde que ele existe. Nele há duas forças que atuam de forma antagônica, e são vistas e sentidas por nós quase que diariamente.
Vulcões no deserto do Atacama, Chile.
A primeira está nas entranhas da terra e só é perceptível quando resolve sair do seu esconderijo. É conhecida tecnicamente por orogênese e vemos ou sentimos sua energia oculta, de nome estranho, através das manifestações mais comuns: os vulcões e os terremotos. A terra treme e se acomoda porque sua crosta está em constante movimento. Uma placa empurra outra para cima e surgem os tremores, tsunamis e as montanhas. A Cordilheira dos Andes é formada por placas que já foram fundo marinho do Oceano Pacífico e estão ainda sendo empurradas para cima. Vulcões criam ilhas nos oceanos e planaltos nos continentes. Estes mesmos movimentos separaram a América do Sul da África, criando o Oceano Atlântico.
Planalto em São José dos Ausentes com o Cânion da Encerra
A segunda é a erosão, que atua sobre tudo que está na superfície da terra desgastando, polindo e reduzindo arestas, arrastando e depositando poeira e partículas por todo o planeta. O vento e a chuva são as suas ferramentas preferidas. Tudo que fica exposto na superfície sofre o desgaste do tempo, e isso faz parte do embate entre estas duas grandes. Se a energia interna do planeta fenecesse, a tendência era termos, com o passar das eras, uma terra plana, sem montanhas e com campos e planícies a perder de vista. Contra esta monotonia de paisagem é que se rebelam estes protagonistas opostos, parecendo que um tem que sempre dar serviço ao outro. É contra o mau humor dos vulcões que se rebela a erosão, desgastando tudo que pode, mesmo que para isso leve milhares de anos. É contra o trabalho de tudo polir e aplainar que se insurgem os vômitos de fogo do interior da terra.
Erosão hídrica pelo Rio Camaquã no Rincão do Inferno
Nós, simples mortais, somos comandados também, de certa forma, por duas forças antagônicas. A nossa orogênese é a nossa emoção, nossa alma oculta, mas que nos impele sentimentos e ansiedades como se vulcões fossem. Trememos quando estamos em pânico ou com frio e fome. A nossa erosão é o tempo que, de forma implacável, nos desgasta e deforma o corpo e nos conduz lentamente para a velhice, nos reduzindo cada vez mais até que voltemos a ser pó, que o vento poderá espalhar e levar para outros lugares, acalmando a alma. Não há como escapar destas forças. Apenas temos que saber que somos partes deste planeta vivo e, portanto, sujeitos as suas regras.