Blog Andando por Aí

O TEMPO

Tapera urbana que serviu de escola em Canela nas décadas de 1950/60

O TEMPO é o mais severo e implacável agente do nosso planeta. Justo, mas inflexível, ele não tem pressa em executar suas tarefas e não perdoa nada nem ninguém. Muda paisagens com calma e maestria formando uma planície aqui, abrindo um vale ali, desviando um rio acolá, erguendo uma montanha mais adiante, submergindo uma cidade ou deslocando os continentes e mudando a geografia. Como o TEMPO é invisível, amorfo e imperceptível vejo, na minha escala de vida humana, apenas as suas ações decorridas, sejam elas feitas há milhares de anos, como a modelagem do Planalto e a formação dos campos e matas de araucárias onde se assenta a cidade de Canela ou algo mais recente, como a transformação lenta e progressiva de uma casa, que já sediou uma escola, em uma triste e autêntica tapera urbana.

O TEMPO muda uma árvore, um pedaço de pedra, uma estrada, uma cidade, uma praia, uma ferida, um amor. Muda as pessoas e os pensamentos, fazendo com que o que éramos, já não somos mais. A casa abandonada da foto pouco lembra o que foi, não fosse pela localização e a lembrança de alguns que por ali moram. Suas telhas, cansadas de se encharcar e escoar as águas das muitas chuvas, vão escorregando e se espatifando no chão já povoado de ervas e gramíneas que encontram sempre novos lugares para se instalarem. Os caibros, apodrecidos, vão se vergando com o peso do barro seco das telhas e cedem, assim como as paredes. Parece que atendem ao chamado silencioso do TEMPO e são lentamente trazidos ao chão para ali se misturarem com a história contida entre as paredes podres, e fazerem com que tudo seja reciclado para servir a outros: telhas voltam ao barro, madeiras viram comida de fungos e insetos, o ferro é devorado pelo oxigênio do ar e os cacos de vidro vão ficando enterrados cada vez mais fundo. E a história que ali se fez no tempo de moradia e escola? Bem, esta vai ficar na mente dos que por ali passaram e viverá enquanto viverem eles, ou resistirá nas folhas de cadernos perdidos em cantos empoeirados de algum sótão, ou nos diários de classe e lembranças dos mestres, como a Professora Lordes dos Santos que ali ministrou aulas em 1957. Há muito se sabe que, neste planeta, nada é permanente, exceto a mudança, e ela é operada pelo mestre da paciência: o TEMPO.

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