Blog Andando por Aí
Biodiversidade e ecoturismo
A biodiversidade do Brasil é uma das maiores do mundo e disso todos se orgulham muito. Mas o que é mesmo biodiversidade? Literalmente é a diversidade da vida, a variedade e o número de espécies de organismos que existem num determinado lugar. Um deserto, por exemplo, devido ao rigor do clima, tem uma biodiversidade muito baixa, podendo suportar poucas espécies de animais e raras plantas ocasionais. Uma floresta, como a amazônica, a mata atlântica ou uma área do Pantanal mato-grossense, tem infinitamente mais capacidade de abrigar um maior número de espécies em uma área equivalente à de um deserto. Esta rica mistura de organismos é a biodiversidade de um lugar e, de tão importante, em 1992 a ONU instituiu 22 de maio como o Dia Internacional da Biodiversidade.
No livro Capitães do Brasil, de Eduardo Bueno, tem uma passagem que mostra por que, desde sempre, a biodiversidade do Brasil atraiu os portugueses, franceses e espanhóis. Em meados de agosto de 1.532, uma frota de navios de Portugal abordou e prendeu no mar Mediterrâneo, em frente à costa de Andaluzia na Espanha, a nau francesa Peregrina que vinha das costas do Brasil. No seu interior foram encontradas milhares de toras de pau-brasil, três mil peles de onça, seiscentos papagaios e mais algodão, óleos de plantas nativas, pimenta e outras coisas compradas aos índios daqui. Esta exploração dos recursos naturais de forma direta e sem o menor escrúpulo, começou a depauperar a nossa Mata Atlântica pouco depois de ser descoberta pelos europeus, interferindo fortemente na sua biodiversidade.
Paradoxalmente, estes mesmos europeus vêm hoje ao Brasil para apreciarem o que sobrou no nosso patrimônio natural, principalmente da Mata Atlântica, Pantanal, Mata de Araucária, Pampa e Floresta Amazônica e o ecoturismo é uma destas vias de acesso e interesse. Todos gostam de ver, ouvir e sentir a natureza esplêndida, na sua forma mais pura e original, seja na Bahia, Rio de Janeiro, Cuiabá, Manaus ou em Santa Catarina. Florestas, campos, banhados, savanas encantam pela sua riqueza natural, única e isso traz recursos para toda a cadeia do turismo de natureza. O íman deste milionário negócio é a biodiversidade que temos, semelhante àquela de mais de 500 anos atrás, ou o que sobrou dela. Preservar amostras de nossos biomas em Unidades de Conservação nacionais, estaduais e municipais virou necessidade. Há muito os africanos perceberam que ganhariam mais dinheiro mostrando os elefantes e leões vivos a milhares de turistas do que empreendendo safáris a poucos desejosos de troféus empalhados nas paredes.
Temos aqui no Rio Grade do Sul algumas boas Unidades de Conservação, como os Parques Nacionais da Lagoa do Peixe, Aparados da Serra e Serra Geral que atraem milhares de visitantes em busca de ver, sentir e harmonizar-se na natureza. Este patrimônio não se constrói, como se faz com um parque temático. Ou ele existe e é preservado, ou nada. No noroeste do RS tem uma Unidade de Conservação denominada Parque Estadual do Turvo, criado em 1947 e que se constitui no mais fiel pedaço da nossa biodiversidade de floresta costeira do Rio Uruguai. Lá, e somente lá naqueles 17 mil hectares, ainda é possível encontrar juntos onça pintada, puma, anta, porcos do mato cateto e queixada, veados, centenas de espécies de aves e uma vasta cadeia entrelaçada desta fauna com a flora exuberante, mostrando a quem visitar o lugar, como era a biodiversidade de nosso passado. Biodiversidade e ecoturismo são palavras complementares que mostram a necessidade de se manter a primeira para que a segunda exista.
