Blog Andando por Aí

As primeiras luzes do dia

 

A planície costeira ainda dorme

Poucas coisas são tão espetaculares como o apreciar da borda de um cânion, empoleirado a mais de mil e duzentos metros de altitude, a chegada das primeiras luzes do dia. Antes ainda do nascer do sol, o breu da noite vai cedendo espaço a uma luz baça, indefinida e leitosa que já permite ver alguns detalhes da paisagem abaixo, como as luzes das ruas de pequenas cidades de Santa Catarina que ainda dormem e mantém suas fotocélulas acionadas e mantendo a iluminação urbana.

 

A neblina esconde a luz

Em outra ocasião, no mesmo horário e local, uma densa neblina baixa encobre a planície catarinense, esconde as cidadezinhas e cria um cenário que se assemelha a um mar calmo que contorna ilhas escuras. Previsão de sol para o Planalto e de tempo nublado para o litoral. Apreciar estas possibilidades climáticas é intrigante e induz a perguntas sobre os fenômenos naturais do nosso planeta que quase sempre não tenho respostas. A umidade do oceano se espalha pelo litoral e, não raro, escala os paredões dos cânions e vem beijar os campos e matas daqui de cima, fenômeno bem conhecido e intrigante chamado de cerração ou Curruspaca, como é conhecida localmente.

 

A luz avança

Poucos minutos depois o sol começa a mostrar sua esfera, surgindo atrás de um morro e parecendo que se esforça para enxergar o que tem do outro lado. Os poucos minutos deste evento em que a terra gira e exibe este lado para o sol, é facilmente confundido com o contrário, e por muito milênios se pensou que o sol é quem se movia. Independentemente de quem faz o que, eu me abstraio da física e fico apreciando o fenômeno com aquele gosto que persiste e o visual que se agarra na retina para nunca mais me abandonar.

 

Primeiras luzes amarelam o campo

Deixo de olhar para o sol por momentos, giro para enxergar o entorno e percebo a magia do dia se instalando sobre o campo. O fenômeno é rápido, muito rápido e não dura mais do que poucos minutos com aquela pincelada de luzes alaranjadas iluminando os pontos mais destacados da paisagem, como se o sol fosse um nível que se estende sobre o campo e atinge apenas aquelas coxilhas ou pedras mais salientes. É o minuto mágico do dia, inigualável, insubstituível e irreproduzível. É de trancar a respiração e ficar muito quieto apreciando, com medo que termine.

 

O sol se impõe na paisagem

Finalmente, após alguns minutos mais, o sol se mostra na sua plenitude e vai mudando do alaranjado para o branco ofuscante e, aí sim, faz retornar as cores e as formas da paisagem. O frio da madrugada e dos momentos que antecederam este nascer do sol, vai cedendo e o ar se aquece lentamente prometendo mais um dia para eu aproveitar com boas caminhadas, banhos de cachoeira ou simplesmente sentar em uma sombra, próximo de um curso de água, e ficar ali ouvindo a sinfonia da água, defendendo-me das mutucas, tomando um mate e escrevendo uma crônica.

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