Blog Andando por Aí

A luz boa do dia

 Luz

A luz oferecida pelo sol, no transcorrer de um dia, varia de intensidade, cor e temperatura, criando cenários diferentes para o mesmo local à medida que as horas avançam. Bem cedo, ou pouco antes do ocaso, a luz fraca cria sombras longas na paisagem, parecendo querer, por ser ligeira, aumentar as coisas para compensar sua timidez. À medida que a terra gira e o sol vai atingindo outras posições, as sombras vão diminuindo até o meio-dia para, em seguida, alongarem-se novamente para o outro lado, como se estivesse brincando de balanço. Nos dois extremos do dia – logo após o nascer e pouco antes do pôr do sol, temos uma luz quente – não quente de calor, mas quente de cor (coisa de fotógrafo!), e são estas poucas horas do dia as mais indicadas para se apreciar uma paisagem e, no meu caso, também para fotografar. As coisas têm mais sombra, mais cores alaranjadas e vermelhas, mais definição. Gosto muito destes dois extremos do dia não só para fotografar, mas principalmente para contemplar e ver as coisas acontecendo e mudando no cenário a frente.

Na origem

Na origem2O autor apresentando seu trabalho acompanhado de suas ferramentas: o bastão de caminhada e a máquina fotográfica

 Quando concebi o projeto do livro Um ano no Topo do Rio Grande, não imaginava que chegaria o dia de seu lançamento da forma como foi, aonde e com quem. Foi uma reunião fechada na Estância Tio Tonho, local que me abrigou durante os quase cem dias de trabalho de campo, com as pessoas que foram importantes para mim e para o bom andamento e conclusão do trabalho. As famílias Vieira e Pereira, que até rimam na sonoridade, outros amigos próximos e as autoridades do Município de São José dos Ausentes, nas pessoas do Prefeito, seu vice e o Secretário de Obras, a Princesa da cidade e a representante da Secretaria de Turismo formaram um grupo que, no aconchego da Estância Tio Tonho, ouviram a história deste livro.

Um livro, uma história

 

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Transformar em livro um projeto de longa duração, complexo, inédito para mim e com desafios que nem imaginava, foi uma conquista pessoal de grande valor. Abri uma “janela” no tempo lá no Topo do Rio Grande, em São José dos Ausentes, e durante um ano retratei o que vi e senti por lá.  Em pouco mais de 220 páginas, com textos e fotos coloridas, perpetuei uma fração do tempo naquele que é o lugar mais alto e frio do nosso Rio Grande e agora materializado através deste livro que nasce para disponibilizar as preciosas informações colhidas. Fauna, flora, geografia, clima, turismo rural, vida nas fazendas, cavalgadas, queijos, churrascos de galpão e muito mais desfilam pelos cinco capítulos desta obra, sendo os quatro primeiros relativos as quatro estações dos anos e o último dedicado a assuntos de interesse regional e com uma visão pessoal do local.  

Cedo da manhã

Cedo2Sabiá-laranjeira com seu lanche recém catado no gramado 

Hoje acordei mais cedo que o meu habitual. Ainda era escuro e a cama me expulsou por estar cansada de mim. Mate pronto, janela aberta, temperatura amena, luzes ainda dos postes da rua olho para a barra do dia e já vejo um tênue sinal alaranjado do novo dia que se insinua lá para atrás da igreja. A sinfonia da passarada começa tímida e, como sempre, liderada pelo sabiá que emite seu trinado forte rompendo o silêncio do final da madrugada, avisando a todos que o dia não tarda. Despertados pelo canto do sabiá e pela luz que aumenta gradualmente, outros cantores vão surgindo; a corruíra, me parece, desenvolveu seu complexo e harmonioso canto para compensar seu pequeno tamanho e se exibe garbosa antes de iniciar seu ritual de caça às aranhas nas frestas de qualquer parede; o risadinha emitindo suas notas descendentes que lembram a risada de alguém após ouvir uma boa piada; quero-queros despertam avisando a todos de seus ninhos; papagaios-do-peito-roxo já se movimentam em bandos emitindo gritos e se deslocando atrás de algumas sementes ou brotos novos de folhas de araucária; corucacas, tico-ticos, sanhaçus-cinzentos, pitiguaris, tucanos e muitos outros iniciam a sinfonia da madrugada. Sem partituras ou maestro, cada um executa seu instrumento no seu tempo compondo uma música única mesclada de harmonias, trinados e gritos formando um caos organizado que nunca se repetirá igual, assim como o são as luzes do início e do final de um dia.

O encontro

Encontro1A cabana, meu amigo e um de seus cães parceiros

Sempre gostei de andar e acampar em lugares remotos, tendo sempre a natureza como único vizinho. Sempre penso que é possível morar em um pequeno espaço, apenas o suficiente para comer, dormir, tomar banho e se sentar confortavelmente para uma leitura, um cochilo ou para olhar as paredes e imaginar o que pode ser colocado aqui, ou ali, para melhorar a funcionalidade e a estética do lugar para deixar à vista lembranças ou coisas do dia a dia.

Hamburguer de galpão

 hamburguer1 2Galpão da Estância Tio Tonho na hora do preparo dos bifes: Wellison e Gregório no controle.

Hamburguer é aquele tipo de lanche que se equivale a uma refeição. Tem pão, carne, saladas, molhos e queijo, tudo que se quer numa refeição rápida e saborosa. Prepara-se de diversas maneiras, quando cada cozinheiro imprimi uma marca de qualidade, sabor, tamanho e até a altura da iguaria, alguns desafiando a maior boca a se abrir para a primeira bocada. A origem deste lanche se perde no tempo, mas o nome “hamburguer” surgiu de imigrantes alemães vindos da cidade portuária de Hamburgo, na Alemanha, quando desembarcaram nos Estados Unidos. A carne moída e assada servida entre duas fatias de pão, era um lanche consagrado naquele país e assim veio para a América. A rede Macdonald acabou consagrando este manjar e o tornou mundialmente famoso.

Retornando à Borda.

A bordaVista de dentro do container em um dia sem cerração

No outono de 2019 passei uma temporada de 60 dias morando num container instalado num ponto estratégico ao sul do Monte Negro, em São José dos Ausentes, com uma vista espetacular para o cânion da Coxilha. Naquele período pude conviver muito estreitamente com a natureza do local, quando registrei raros momentos da essência do conjunto de campos de altitude, borda de planalto e vista infinita para o litoral de Santa Catarina. Dias bons, com sol e visibilidade que permitiram a exploração detalhada do local, outro ruins, com chuva e cerração que me trancaram no container por dias a fio. Mas tudo valeu pelo ineditismo da experiência que me permitiu conhecer mais um pouco da natureza e sua força modeladora e, principalmente, por ampliar o meu conhecimento sobre mim mesmo, meus limites e capacidade de me adaptar ao isolamento. Isto me trouxe preciosos ensinamentos sobre uma vida com o mínimo necessário e vejo hoje como desperdiçamos coisas e momentos, como temos acessórios que são plenamente dispensáveis e que, na maioria das vezes, nos foram impostos pelo modo de vida atual.  

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