Blog Andando por Aí

Alecrim

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Um pé de alecrim pode ser o orgulho daquela pessoa apaixonada no preparo de uma refeição dedicada ao consumo da família e dos amigos. Na entrada da casa, junto ao jardim, ou num vaso em uma área interna, ensolarada nas horas da manhã ou da tarde, ajuda na hora de fazer aquele ajuste no tempero de um almoço de domingo. Gosto de utilizar seus ramos com as pequenas folhas e até suas flores minúsculas. Batatas gratinadas com manteiga e azeite de oliva chama um alecrim para liberar aquele seu aroma herbáceo único, inconfundível. O alecrim fica torrado e crocante, sem se importar com seu estado alterado, pois ele sabe do seu sabor e aroma já emprestados às batatas assadas, ficando ele para o deleite de ser estalado nos dentes, como ramos secos e saborosos de uma erva sagrada.

Qual o limite da escrita?

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Desde há onze anos, venho escrevendo semanalmente sobre natureza, comportamento, lembranças de infância e outros assuntos aleatórios, muitas vezes difíceis de surgirem e se materializarem em textos, enquanto que a maioria surge rapidamente e me exige poucos minutos de concentração. Na rotina de criar e entregar semanalmente algo inédito aos leitores do Nova Época, muitas coisas despertam o meu senso criativo. Encontro assuntos quando estou caminhando pela cidade e passo por um lugar do meu tempo de criança, ou observo detalhes de uma ave, um fruto, uma pedra, uma árvore ou amigos me sugerem pautas interessantes. Assim nascem as crônicas, podendo ser boas, medianas, fracas ou excelentes.

A água e a vida

água

 Este líquido transparente e fluido que circula pelo planeta, desconhecendo fronteiras, mas com regras definidas, é o que permite a vida como a conhecemos. Sem água, sem vida. Com seu impressionante corpo amorfo, molda-se, sem constrangimento, ao lugar aonde se encontra, seja em forma de uma gota na ponta de uma folha, prestes a ser trazida para o solo pela gravidade, ou pela forma plana de um lago de montanha, preenchendo uma depressão do terreno, com aquele aspecto mutante e hipnotizante de um rio, ou ainda como vapor, enfeitando o azul do céu com seus desenhos aleatórios de nuvens efêmeras ou densas e ameaçadoras.

Eu gosto do frio

super geada1Estância Tio Tonho, São josé dos Ausentes

 Sempre que o inverno se manifesta com força no nosso paralelo 29 do sul do Brasil, traz junto lembranças da minha infância, quando gostava de caminhar na geada com aqueles duros e quentes tamancos de madeira e ouvir os estalidos provocados pelo amassamento dos cristais de gelo. Era um som abafado, de coisas quebrando e esmagando, lembrando o raspar de uma colher de pau numa superfície dura. Roc, roc, roc e lá ia eu pelo gramado de nossa casa deixando as pegadas bem marcadas no gelo superficial. Era divertido e o frio eu nem sentia, protegido pelo estímulo de andar ali com uma adrenalina capaz de proteger o corpo todo. Uma pequena poça de água exibia uma fina lâmina de gelo por cima, pedindo para ser removida e jogada longe para se quebrar como vidro. Passado o tempo da euforia inicial, percebia os dedos gelados, duros e com movimentos limitados, forçando a ficar um tempo com as mãos nos bolsos pra seguir a aventura. Logo o nariz acusava o mesmo problema dos dedos, assumindo aquele característico tom vermelho e pingando gotas de uma coriza alérgica. A coisa começava ficar complicada quando ouvia, ao longe, a inconfundível voz da minha mãe Lourde, chamando para entrar e sair do frio.

O encanto da cerração

Dia de cerração2

Amanhece o dia aqui em Canela, neste inverno de 2024, com aquela cerração meio fechada, meio aberta. Ela entra na cidade, vinda do Vale do Quilombo, e pinta de branco as coisas e aquelas pessoas com o dever de saírem de casa e encarar a nuvem úmida. Parecendo um fantasma com mil mãos apontando para cima, um ipê-roxo parece orar para o céu, fazendo uma reverência silenciosa e dizendo: “Não vais molhar minhas folhas, já roubadas pelo inverno. Aguarde a primavera, lá as terei novamente.” Uma estrelícia, com sua flor laranja, se contrapõe ao cinza, elegante e misteriosa, alegrando o conjunto monocromático.

Sal, sul e a história

charqueadas2Casa preservada da Charqueada São João

O sal sempre foi importante na culinária, principalmente para realçar os sabores dos diversos alimentos. Ele também teve um papel muito importante na história do Rio Grande do Sul durante os séculos XVIII e XIX, período áureo das charqueadas localizadas próximas das margens do Rio Pelotas, na cidade homônima. A abundância do gado xucro que havia no Pampa, legado deixado pelos espanhóis que por aqui viveram, fornecia a matéria prima necessária para esta incipiente indústria.

E foi assim

loboguara

 

Quando eu ainda estudava Biologia, lá no final dos anos 1970, fui assistir a uma palestra sobre novos métodos da Genética para a identificação de espécies de plantas e animais. Assunto quente, novo e cheio de desafios, reuniu acadêmicos, como eu, profissionais da área, outros biólogos interessados e, principalmente, professores renomados e com vasta experiência em pesquisa e magistério na academia. Após uma longa exposição, instigante e complexa, passou por nós um professor querido e respeitado por todos, e disse: Isto é para vocês, já não consigo me atualizar neste assunto tão novo e complexo. Fiquei pensando naquela frase por muito tempo, tentando entender o motivo que levou aquele famoso professor a proferir aquilo.

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